quarta-feira, 21 de abril de 2010

DIA DO ÍNDIO - 19 DE ABRIL

No ano de 2006, tive a oportunidade de conhecer Daniel Munduruku, no Curso de Leitura, Literatura e Formação de Leitores promovido pela SME - Mídia Educação em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e  Juvenil FNLIJ. Fiquei em profundo êxtase durante duas horas. Ele conta histórias de seu povo pelo Brasil, para difundir a sua cultura e fazer renascer a cultura brasileira. Trabalho maravilhoso! Que bom matar as saudades!
Regina Karla

                                                           

Hoje é dia do índio. Muitas escolas fizeram atividades para lembrar a existência das populações indígenas em nosso país. Muitas delas fizeram isso pedindo às crianças que desenhassem uma “oca”; outras pediram uma pesquisa sem pé nem cabeça. Algumas adotaram livros falando deles; outras vestiram meninos e meninas de “índio” e os puseram para representar a chegada dos europeus, cantar músicas preconceituosas ou pintaram seu rosto como os apaches americanos.
Certamente algumas ensinaram a coisa certa alertando os estudantes sobre a incoerência que ainda grassa no País a respeito dos povos indígenas. Lembraram as injustiças que se cometeram e se cometem ainda hoje contra aquelas pessoas que apenas desejam viver de modo diferente. Outras contaram histórias antigas para alertar que nosso país tem tradição, tem ancestralidade.
Algum professor ou professora lembrou que já fomos muitos e hoje somos tão poucos e estamos cada vez mais empobrecidos por conta da lógica do consumo, da ganância, da exploração, do capitalismo que continua dando ordens para toda a sociedade. Quem sabe alguém chorou ao lembrar que foi num dia como esse que queimaram o pataxó Galdino num ponto de ônibus de Brasília.
Talvez até alguém lembrou que nenhum governo em toda a história deste país assumiu claramente uma posição a favor dos 230 povos que ainda habitam teimosamente esta nossa terra. E que apenas um único indígena chegou a ser deputado federal em 508 anos de história.
Quem sabe alguém alertou para as dificuldades presentes em todos aqueles que se nomeiam indígenas. Disse isso mostrando que os nativos brasileiros não possuem terras suficientes para manter sua própria cultura; que há crianças morrendo de desnutrição; que jovens cometem suicídio por falta de perspectiva de vida; que grandes latifundiários continuam invadindo as terras indígenas apenas pelo prazer de destruir a natureza tão desesperadamente preservada por nossas comunidades.
Tomara que alguém tenha lembrado que há indígenas fazendo coisas muito importantes por este mundo afora: tem gente ganhando prêmios literários; participando da seleção brasileira de futebol feminino; ganhando prêmios em festivais de músicas; gravando CD’s que fazem sucesso; participando de competições esportivas nacional e internacionalmente; desenvolvendo pesquisas cientificas; cursando universidades, mestrados e doutorados em diversas partes do mundo; dançando em grande companhias de danças; atuando no cinema e na televisão; escrevendo e dirigindo filmes. Enfim, gente indígena que mostra seu talento e conquista multidões por este mundo afora. Tomara que não esqueçamos desses na hora de colocar para fora os estereótipos que ainda alimenta a imaginação de muita gente ignorante.
Hoje é um dia de refletir sobre a humanidade que desejamos construir. Será que nela haverá lugar para todos por mais diferentes que sejamos? Ou será que neste mundo só caberá a ignorância do preconceito, o fantasma da intolerância e a mediocridade dos que se acham melhores que outros?
Acrescento abaixo a linda poesia escrita por Eliane Potiguara, uma indígena nordestina vítima de preconceitos durante toda uma vida de luta pelos direitos humanos dos povos indígenas:

BRASIL
O que faço com minha cara de índia?
E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?

O que faço com minha cara de índia?
E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos?

O que faço com minha cara de índia?
E meu Toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha terra?

O que faço com minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com minha cara de índia?
Não sou violência
Ou estupro
Eu sou história
Eu sou cunha
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro.

Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só...
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.
(Texto retirado do livro: “Metade cara, metade máscara”. Eliane Potiguara. Global Editora. São Paulo, 2004)
 

2 comentários:

  1. Realmente o Daniel é encantador... Tive a oportunidade de adquirir um de seus maravilhosos livros- Sobre piolhos e outros afagos- no Salão do Livro com direito a autógrafo e foto, com mto orgulho. Qdo ele começa a falar vc se transporta para as aldeias indígenas num passe de mágica...
    Fantástico!!!!!
    Sulenir (Profª Sala de Leitura da Escola M. Maurício Cardoso)

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  2. Recebi do Daniel este livro - Sobre piolhos e outros afagos - que guardo como um bem precioso e releio com frequência para não esquecer das reflexões ali provocadas.
    Imaginem que no mesmo dia, consegui encontrar e comprar Minerações, de Bartolomeu Campos de Queirós. Também conheci Eliane Potiguara e seu livro Metade cara, metade máscara.
    Foi muita emoção para um dia de final de Seminário do Salão do Livro!

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