quinta-feira, 29 de abril de 2010

CONVITE

UMA ROSA POR SÃO JORGE E UM LIVRO POR QUINTANA na E.M. Anísio Teixeira - 4ª CRE

Amanhã é dia de alegria na Escola Municipal Anísio Teixeira, Ilha do Governador!

Vejam o convite! Apareçam se puderem e levem um livro para trocar!
http://www.photoshow.com/watch/wE2Zq8fX

segunda-feira, 26 de abril de 2010

MONTEIRO LOBATO E A LEITURA COMPARTILHADA


Dona Benta sentou-se na sua velha cadeirinha de pernas serradas e principiou:
 
Hans Staden era um moço natural de Homberg, pequena cidade do Estado de Hesse, na Alemanha.
 
De S? – exclamou Pedrinho, dando uma risada. Que engraçado!
 
Não atrapalhe – disse Narizinho. Assim como em S. Paulo há a freguesia de Nossa Senhora do Ó, bem pode haver o Estado de S na Alemanha. Em que o O é melhor do que o S?
 
Com este delicioso diálogo, Monteiro Lobato começa seu livro Aventuras de Hans Staden. A maneira como ele dá nova vida editorial à trajetória desse aventureiro alemão – que naufragou na costa brasileira em 1549 e foi aprisionado pelos índios Tupinambá por oito meses – e a aproxima do leitor jovem brasileiro é de uma engenhosidade literária única.
 
Staden escreveu um diário que correu a Europa a partir de 1557 e se tornou um dos mais antigos registros testemunhais de um europeu na terra recém achada pelos portugueses. Lobato publicou o diário de Staden em 1925 (texto original traduzido) com o título de Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil. Foi o livro fundador da Companhia Editora Nacional, do próprio Lobato, e teve mais duas edições e oito mil exemplares no total. Com o sucesso, Lobato lançou em 1927 uma adaptação, Aventuras de Hans Staden, com tiragem inicial de seis mil exemplares.
 
Histórias de livros que ganham novas vidas, quatro séculos depois, já seriam notáveis. Neste caso, igualmente admirável é o projeto literário de Lobato de fazer o diário dialogar com as crianças e os jovens. Mas se na aparência poderia ser apenas a “adaptação” de uma boa história, a proposta logo se revela muito mais sofisticada, como tudo o que se refere ao escritor.
 
Um dos aspectos mais interessantes – na “tradução” da prosa antropológica do diário para a literatura juvenil – é a narrativa com três vozes (a do diário de Staden, a de Lobato e a de Dona Benta) e a proposta de leitura compartilhada que o autor cria a partir do texto do diário, que Dona Benta conta aos netos Pedrinho e Narizinho. “A imagem do contador de histórias é frequente na obra infantil lobatiana. Em diversos livros, a leitura oral é representada como ritual no centro das atividades vividas pelos personagens do sítio”, escreve Lucila Bassan Zorzato em seu ensaio “Hans Staden à lobatiana”, no livro Monteiro Lobato, livro a livro: Obra infantil, organizado por Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini (Editora Unesp/Imprensa Oficial, 2008).
 
Os netos participam: “Leia a sua moda vovó!”, pede Narizinho. A prosa de Lobato utiliza ainda outras estratégias para cativar os leitores – além da participação dos ouvintes, que, inclusive, ironizam e criticam o narrador –, como o tom de aventura, capítulos curtos que permitem ler aos poucos, a linguagem coloquial (não o “português de defunto”, nas palavras de Lobato...) e a oralidade dos diálogos.
 
O Hans Staden de Monteiro Lobato (também interessante sobre suas concepções de história e ciência) é testemunho do instigante projeto literário do autor, sua proposta “pedagógica” e sua sensibilidade em criar uma literatura de leitura compartilhada com várias vozes dentro e fora do livro.
 

Roney Cytrynowicz , A coluna "Volta ao mundo em 80 livros", publicada quinzenalmente - sempre às sextas-feiras, vai contar histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narrar episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.publicado em 23/04/2010 no PUBLISHNEWS

sexta-feira, 23 de abril de 2010

23 DE ABRIL - DIA INTERNACIONAL DO LIVRO

“Ler é produzir sentidos”

Hoje é o Dia Nacional do Livro
Por Elizabeth Caldas de Almeida, Professora Regente de Sala de Leitura Polo

Ontem, a caminho da exposição do meu irmão* passei por uma situação inusitada.
Pouco antes da entrada do túnel Rebouças, percebi no meio da pista, jogado, desfolhado pelo vento um livro...
Por um breve momento fui tomada pelo pânico. Freei o carro quase provocando um acidente, desviando do objeto precioso jogado ao chão. Tive ímpetos de parar e resgatar aquele volume, mas não foi possível.
O que estaria escrito naquelas páginas remexidas pelo vento? Uma narrativa de vida? Ou um registro científico? Que sonhos estariam impressos ali? Talvez denúncias políticas ou a descrição de um crime hediondo...
Preferi pensar que se tratava de um romance, uma tórrida e avassaladora história de amor, tal qual Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta, ou uma aventura de mares e superações de um Robson Crusoé ou Conde de Monte Cristo. Talvez um tratado poético de liberdade expresso pelo Navio Negreiro ou do tipo Faz escuro, mas eu canto.
Minha cabeça girava em divagações mil quando cheguei à galeria de arte e me entreguei ao deleite da poesia do olhar do escultor e de suas obras, junto com as amigas que me acompanhavam.
Mais tarde, já deitada em minha cama, ao fechar os olhos, lembrei de Roseana Murray e sua Receita de olhar. Adormeci me imaginando dentro daquelas páginas talvez atropeladas ou salvas por um carro qualquer...

*Marcelo Caldas, esculturas, em exposição no Centro Cultural Cândido Mendes, Rua Joana Angélica, 63, Ipanema

quarta-feira, 21 de abril de 2010

PRÊMIO VIVA LEITURA

 
     

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Vivaleitura 2010, iniciativa que tem como objetivo estimular, fomentar e reconhecer experiências relacionadas à leitura. Esta é a quinta edição do Vivaleitura, que tem duração inicial prevista para dez anos (2006-2016) e é a maior premiação individual para o fomento à leitura no Brasil. Durante as quatro edições anteriores, cerca de 8,5 mil projetos já foram inscritos.
O Vivaleitura é uma iniciativa da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), dos ministérios da Cultura e da Educação. O Prêmio tem execução e patrocínio da Fundação Santillana.
Trabalhos em prol da leitura desenvolvidos por instituições, empresas, órgãos públicos e pessoas físicas do Brasil inteiro podem ser inscritos em três categorias distintas, concorrendo a um prêmio de R$ 30 mil por categoria. São elas: (1) Bibliotecas públicas, privadas e comunitárias; (2) Escolas públicas e privadas; e (3) Sociedade: empresas, ONGs, pessoas físicas, universidades e instituições sociais.

DIA DO ÍNDIO - 19 DE ABRIL

No ano de 2006, tive a oportunidade de conhecer Daniel Munduruku, no Curso de Leitura, Literatura e Formação de Leitores promovido pela SME - Mídia Educação em parceria com a Fundação Nacional do Livro Infantil e  Juvenil FNLIJ. Fiquei em profundo êxtase durante duas horas. Ele conta histórias de seu povo pelo Brasil, para difundir a sua cultura e fazer renascer a cultura brasileira. Trabalho maravilhoso! Que bom matar as saudades!
Regina Karla

                                                           

Hoje é dia do índio. Muitas escolas fizeram atividades para lembrar a existência das populações indígenas em nosso país. Muitas delas fizeram isso pedindo às crianças que desenhassem uma “oca”; outras pediram uma pesquisa sem pé nem cabeça. Algumas adotaram livros falando deles; outras vestiram meninos e meninas de “índio” e os puseram para representar a chegada dos europeus, cantar músicas preconceituosas ou pintaram seu rosto como os apaches americanos.
Certamente algumas ensinaram a coisa certa alertando os estudantes sobre a incoerência que ainda grassa no País a respeito dos povos indígenas. Lembraram as injustiças que se cometeram e se cometem ainda hoje contra aquelas pessoas que apenas desejam viver de modo diferente. Outras contaram histórias antigas para alertar que nosso país tem tradição, tem ancestralidade.
Algum professor ou professora lembrou que já fomos muitos e hoje somos tão poucos e estamos cada vez mais empobrecidos por conta da lógica do consumo, da ganância, da exploração, do capitalismo que continua dando ordens para toda a sociedade. Quem sabe alguém chorou ao lembrar que foi num dia como esse que queimaram o pataxó Galdino num ponto de ônibus de Brasília.
Talvez até alguém lembrou que nenhum governo em toda a história deste país assumiu claramente uma posição a favor dos 230 povos que ainda habitam teimosamente esta nossa terra. E que apenas um único indígena chegou a ser deputado federal em 508 anos de história.
Quem sabe alguém alertou para as dificuldades presentes em todos aqueles que se nomeiam indígenas. Disse isso mostrando que os nativos brasileiros não possuem terras suficientes para manter sua própria cultura; que há crianças morrendo de desnutrição; que jovens cometem suicídio por falta de perspectiva de vida; que grandes latifundiários continuam invadindo as terras indígenas apenas pelo prazer de destruir a natureza tão desesperadamente preservada por nossas comunidades.
Tomara que alguém tenha lembrado que há indígenas fazendo coisas muito importantes por este mundo afora: tem gente ganhando prêmios literários; participando da seleção brasileira de futebol feminino; ganhando prêmios em festivais de músicas; gravando CD’s que fazem sucesso; participando de competições esportivas nacional e internacionalmente; desenvolvendo pesquisas cientificas; cursando universidades, mestrados e doutorados em diversas partes do mundo; dançando em grande companhias de danças; atuando no cinema e na televisão; escrevendo e dirigindo filmes. Enfim, gente indígena que mostra seu talento e conquista multidões por este mundo afora. Tomara que não esqueçamos desses na hora de colocar para fora os estereótipos que ainda alimenta a imaginação de muita gente ignorante.
Hoje é um dia de refletir sobre a humanidade que desejamos construir. Será que nela haverá lugar para todos por mais diferentes que sejamos? Ou será que neste mundo só caberá a ignorância do preconceito, o fantasma da intolerância e a mediocridade dos que se acham melhores que outros?
Acrescento abaixo a linda poesia escrita por Eliane Potiguara, uma indígena nordestina vítima de preconceitos durante toda uma vida de luta pelos direitos humanos dos povos indígenas:

BRASIL
O que faço com minha cara de índia?
E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?

O que faço com minha cara de índia?
E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos?

O que faço com minha cara de índia?
E meu Toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha terra?

O que faço com minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com minha cara de índia?
Não sou violência
Ou estupro
Eu sou história
Eu sou cunha
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro.

Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só...
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.
(Texto retirado do livro: “Metade cara, metade máscara”. Eliane Potiguara. Global Editora. São Paulo, 2004)
 

terça-feira, 20 de abril de 2010

RESENHA E TRECHO DO LIVRO "PASSADO E PRESENTE DOS VERBOS LER E ESCREVER"

A obra Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever (96 págs., Ed. Cortez, tel. 11/3611-9616), de Emilia Ferreiro, conduz o leitor a uma reflexão sobre as práticas de leitura e escrita e a importância da diversidade no processo de alfabetização. O livro reúne trabalhos apresentados em congressos pela autora, psicolinguista que se doutorou na Universidade de Genebra sob a orientação de Jean Piaget (1896-1980), a cujo trabalho ela deu continuidade. No primeiro texto, Emilia Ferreiro faz um breve panorama da leitura e da escrita na história da humanidade e analisa os efeitos das circunstâncias históricas e temporais na construção de novos significados para os verbos citados no título da obra. No segundo, ela aborda problematizações sobre o futuro da leitura tendo como base a compreensão do passado. Nesse sentido, a autora coloca em discussão a construção de leitores e produtores de textos num mundo em constante transformação, que conta cada vez mais com as novas tecnologias de comunicação. Essas mudanças traçam novos cenários para a Educação e os profissionais envolvidos com as práticas de leitura e escrita devem se questionar sobre isso. Afinal, evoluções como essa nem sempre dialogam com as práticas dos educadores. Nessa relação entre passado e futuro, o leitor é convidado a refletir sobre a história da leitura a partir da Idade Média e sobre a importância de envolver as crianças desde cedo com vários tipos de texto. Alguns exemplos de escritores em potencial mostram como eles são capazes de enfrentar desafios quando têm acesso à diversidade de textos e são colocados no papel de produtores de cultura.

O último texto do livro tem como focos de reflexão a diversidade no processo de alfabetização e o papel da escola no enfrentamento das diferenças e no respeito a elas. Essa heterogeneidade, que muitos educadores encaram como uma dificuldade, é tratada pela autora como uma vantagem pedagógica se for compreendida pela escola, que deve investir em instrumentos didáticos para trabalhá-la.

A leitura é uma viagem pelo tempo dos verbos ler e escrever e um convite à reflexão, já que a obra abre caminhos para a qualidade da aprendizagem e para a atuação reflexiva daqueles que se comprometem em transformar as práticas de leitura e escrita.
Clélia Cortez, autora desta resenha, é pedagoga, formadora de professores e consultora do Programa Formar em Rede, do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Trecho do livro
"Que nos comprometamos com os futuros leitores para que a utopia democrática pareça menos inalcançável. As crianças - todas as crianças, garanto - estão dispostas para a aventura da aprendizagem inteligente. Estão fartas de ser tratadas como infradotadas ou como adultos em miniatura. São o que são e têm direito a ser o que são: seres mutáveis por natureza, porque aprender e mudar é seu modo de ser no mundo. Entre o 'passado imperfeito' e o 'futuro simples' está o germe de um 'presente contínuo' que pode gestar um futuro complexo: ou seja, novas maneiras de dar sentido (democrático e pleno) aos verbos 'ler' e 'escrever'. Que assim seja, embora a conjugação não o permita."

Retirado do site: http://www.ne.org.br

domingo, 18 de abril de 2010

DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL

Dia Nacional do Livro Infantil
Salve 18 de abril, dia do livro infantil!!! Salve Monteiro Lobato e sua obra de fino trato!!! Em homenagem ao aniversário de Monteiro Lobato, comemora-se, em 18 de abril, o dia nacional do livro infantil!!! Revisitar Monteiro Lobato neste 18 de abril é abrir uma das mais expressivas páginas da História do Livro Infantil brasileiro. Abril é o mês da comemoração dos Natal das Letras Infantis, do Natal de Hans Christian Andersen, do Natal de José Bento Monteiro Lobato. Dois mestres nascendo e renascendo no Berço-Manjedoura da Literatura Infantil. Duas presenças soberanas tecendo o Natal arquetípico do imaginário da infância.Para celebrar esta data vou destacar uma das páginas da correspondência de Lobato com o grande amigo mineiro, Godofredo Rangel, datada de 28 de março de 1943, recolhendo uma sábia revelação do leitor Lobato na lembrança do lugar privilegiado da literatura na leitura da infância:

Acessem www.fatimamiguez.pro.br e leiam o restante do texto!

HOMENAGEM A LOBATO

Salve Monteiro Lobato!! Salve a Literatura Infantil Brasileira!! A paz em sementes de Emília, de Visconde de Sabugosa!!! No dia das Letras Infantis, 18 de abril, vamos prestar uma homenagem ao grande Mestre da nossa lietratura Infantil: Monteiro Lobato. Na arquitetura da ficção lobatiana temos uma famosa boneca de pano que fala, um Sabugo que vira Visconde, um mundo maravilhoso que nos faz hóspedes incansáveis em busca de novas aventuras, em busca do espanto da criação... Nós, adultos, nos tornamos crianças e passamos a fazer parte deste universo acreditando nas suas façanhas e descobertas... Para revisitar esse mundo mágico de pura fantasia, vou deixar, para vocês, dois fragmentos relativos a criação da Emília, por tia Anastácia, e a criação do Visconde de Sabugosa, por Pedrinho, passagens incluídas no livro "Reinações de Narizinho". Acolham esses personagens com o vigor da infância nutrindo o imaginário de cada um de vocês!! Tenham um domingo abençoado!! Um abraço de feliz dia nacional da Literatura Infantil,
Fátima Miguez


"Dona Benta, de fato, nunca dera crédito às histórias maravilhosas de Narizinho. Dizia sempre "Isso são sonhos de crianças." Mas depois que a menina fez a boneca falar, Dona Benta ficou tão impressionada que disse para a boa negra: "_ Isso é um prodígio tamanho que estou quase crendo que as outras coisas fantásticas que Narizinho nos contou não são simples sonhos."
_ Eu também acho, Sinhá. Essa menina é levada da breca. É bem capaz de ter encontrado por aí alguma varinha de condão, qua alguma fada tenha perdido... Eu também não acreditava no que ela dizia, mas depois do caso da boneca fiquei até transtornada da cabeça. Pois onde é que já se viu uma coisa assim, Sinhá, uma boneca de pano, que eu mesma fiz com estas pobres mãos, e de um paninho tão ordinário, falando, Sinhá, falando que nem uma gente!... Qual, ou nós estamos caducando ou o mundo está perdido..."

"Pedrinho fez como Lúcia pediu. Arranjou um bom sabugo, ainda com umas palhinhas no pescoço que fingiam muito bem de barba, botou-lhe braços e pernas, fez cara com nariz, boca, olhos e tudo _ e não esqueceu de marcar-lhe a testa com um sinal de coroa de rei. Depois enterrou-lhe na cabeça uma cartolinha e lá se foi com ela à casa da boneca."

COR DE OUTONO

Recebam com carinho o texto enviado por Fátima Miguez, neste dia de Lobato!

A paz em cores de outono!!! Vejam que interessante no livro "Peter Pan", adaptação de Monteiro Lobato, tem uma referência ao outono na expressão poética "Cor de outono"... Leiam a explicação de Dona Benta aos netos num dos círculos de leitura do Sítio do Picapau Amarelo.Muito lindo!!
É uma reflexão poética sobre a estação em que estamos...
Fátima Miguez


"Narizinho estranhou aquela expressão "cor de outono".
_ Que história é essa, vovó? O Outono é uma das estações do ano, mas não me consta que tenha cor...
Dona Benta riu-se.
_ Minha filha, a língua está cheia de expressões poéticas. São os poetas que inventam essas coisas tão lindinhas para enfeite da linguagem. O outono é a mais linda de todas as estações nos países frios onde cai neve. Aqui no Brasil ninguém percebe diferença entre o outono, o verão e o inverno. Na verdade só temos duas estações _ a das águas e da seca. A vegetação se mostra intensamente verde na estação das águas, e também verde, mas de um verde mais sujo, mais seco, na estação da seca _ que vai de maio a outubro. Nos países frios não é assim. As quatro estações são perfeitamente definidas.
_ Eu sei! - gritou Pedrinho. Há a primavera, o verão, o outono e o inverno...
_ Isso mesmo. Na primavera a vegetação desperta do sono do inverno e brota numa grande alegria de verdes esmeraldinos. Sabe o que é verde esmeraldino?
_ É o verde cor de esmeralda.
_ Sim _ um verde de broto novo, delicado, lindo. Nas laranjeiras você vê muito bem o verde esmeralda nos brotos e vê o verde carregado do verão nas folhas velhas. Pois bem: o verde esmeraldino é o verde da primavera; de modo que se um poeta disser "cor de primavera" a gente já sabe que se trata do verde esmeralda.
_ Nesse caso, a "cor de verão" deve ser o verde carregado das copas das laranjeiras _ ajuntou Narizinho.
_ Perfeitamente, minha filha. "Cor de verão" só pode ser o verde carregado. "E o cor de outono..."
Dona Benta parou. Tinha primeiro de dar uma idéia do que é o outono nos países frios. Pensou um bocado e disse:
_ O outono é a mais linda, a mais poética estação do ano nos países frios.. a vegetação inteirinha muda de cor, o que é verde passa a amarelo ou vermelho.
_ Então fica lindo...
_ Sim, a natureza fica como um sonho de beleza. Tudo amarelo e vermelho. A gama inteira dos amarelos e vermelhos... No começo, amarelos e vermelhos muito vivos, novinhos ainda. Depois, mais murchos; e por fim, uns amarelos e vermelhos mortos, embaçados, sujos, porque toda a folharada das árvores vai caminhando para o tom pardo, que é o tom da morte das folhas diante do inverno que se aproxima. Estão entendendo?
_ Estamos, vovó - responderam os dois meninos. Apesar da sua linguagem elevada estamos entendendo muito bem. E já percebemos o que é "Cor de outono" _ acrescentou Narizinho. É o tom-de-palha, não é isso mesmo?
Dona Benta abraçou a sua neta.
_ Isso mesmo. É o tom-de-palha, de folha murcha já quase sem cor."

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Poesia é bom mesmo... fora da estante!

Sábio, em suas raízes etimológicas, significa
“aquele que degusta”. Ser sábio não é ter acumulado
conhecimentos num grau superlativo : é haver
desenvolvido a capacidade erótica de sentir o gosto
da vida. Sapiência é “nada de poder , uma pitadinha
de saber e o máximo possível de sabor”.

( Roland Barthes)


As escolas da Rede Pública Municipal de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro contam com um espaço especial que é a Sala de Leitura, local onde trabalho na E. M. Barão Homem de Melo, em Vila Isabel. Voltado para a promoção da leitura e a formação de leitores, o espaço é convidativo para a manifestação da criação e produção de leituras com alegria e prazer, misturando um toque mágico de sabor e saber.

Nesse espaço fervilham como num caldeirão mágico muitos textos, muitas leituras, diferentes gêneros e suportes textuais tais como contos clássicos e populares, poesias, fábulas, livros de imagens, histórias em quadrinhos, jornais, vídeos, revistas para crianças.

Utilizando diferentes modos e estratégias de leitura, no decorrer dos cinco primeiros anos do ensino fundamental os alunos que passam pela Sala de Leitura vão construindo suas histórias de leitores.

Além de termos um acervo variado e de qualidade, que é de suma importância para a formação de leitores reflexivos e críticos, é preciso guiá-los nesses primeiros passos e oferecer-lhes boa literatura sem obrigá-los a ler. E o mais importante: livros nas mãos das crianças, fora da estante!

Ana Maria Machado diz que... Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever. É alimento do espírito. Igualzinho a comida. Todo mundo precisa, todo mundo deve ter a sua disposição – de boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome. Mas é um absurdo impingir um prato cheio pela goela abaixo de qualquer pessoa. Mesmo que se ache que o que enche aquele prato é a iguaria mais deliciosa do mundo.

Sabemos que educar crianças para que gostem de ler não é tarefa fácil e por isso o projeto “Poesia é bom mesmo... fora da estante!”, que desenvolvo na Sala de Leitura, proporciona momentos de alegria, emoção, diversão e muito prazer para todos os envolvidos neste processo.


Trabalho coletivo E. M. Barão Homem de Melo, em Vila Isabel

Poesia é uma forma especial de ver o mundo. Manoel de Barros no livro Tratado das Grandezas do Ínfimo diz que “Poesia é quando a tarde está competente para dálias. É quando ao lado de um pardal o dia dorme antes.” Adélia Prado no poema Sedução diz: “A poesia me pega com sua roda dentada, me força a escutar imóvel o seu discurso esdrúxulo ... Me pega a ponta do pé e vem até na cabeça, fazendo sulcos profundos. É de ferro a roda dentada.” Por isso gosto tanto da linguagem poética. Os textos são capazes de provocar impacto, de fazer ver com novos olhos o já visto. Gosto especialmente da emoção que a poesia desperta, com suas rimas, seu ritmo, seu jogo de palavras.

Leio muitos poemas para meus alunos (que é o que mais gosto de fazer) e com isso tento passar para eles a minha paixão pela literatura e o prazer que a leitura me proporciona.

Ofereço um banquete com os livros de poesia. Espalho pelos expositores, penduro num varal, arrumo-os em cestas. Deixo os alunos à vontade para que escolham o que mais lhes agradar. Escolhem pela ilustração do livro, pelo tamanho, pelo colorido da capa, pelo título ou pelo autor – sem interferência minha.

Neste projeto, com as turmas dos três primeiros anos das séries iniciais, começo selecionando livros com poemas curtos e engraçados.

Um livro bastante interessante para fazer rir e sensibilizar as crianças neste primeiro estágio é o “Poesia Fora da Estante”, que tem versos que mimetizam os sentimentos humanos, através de arranjos de sons, ritmos, imagens; que fazem com que o cotidiano possa ser visto como nunca fora antes.

Uma poesia divertida é a “Era Uma Vez”, de Sergio Capparelli, do livro acima sugerido:


Era Uma Vez

Era uma vez Do gato azarado
um gato cotó: chegou a vez:
fez cocô procê só. fez cocô procês seis.

E o gato zarolho Ah, que beleza!
veio depois: É o gato coquete:
fez cocô procês dois. fez cocô procês sete.

Tinha também Bom dia! Banoite!
um gato xadrez: E o gato maroto:
fez cocô procês três. fez cocô procês oito.

O gato seguinte E o gato zebrado
usava sapato: também resolve:
fez cocô procês quatro fez cocô procês nove.

Quem não conhece Viche! Vem chegando
O gato Jacinto: O gato Raimundo:
fez cocô procês cinco. Traz cocô pra todo mundo.


Brinco com as crianças ao ler esta poesia. Mudo a voz, faço caras, tento pegá-las de surpresa, quando a cada verso lido aponto para um determinado grupo. As crianças riem, se abaixam para não receberem o “cocô”. Neste momento se instaura um clima mágico, alegre, divertido. Mostram como são cheias de vida!

Leio outras poesias deste livro e de muitos outros também.

Outro poema “A Estrada e o Cavalinho”, também de Sergio Caparelli, do livro Boi da Cara Preta propicia brincadeira com o ritmo, imitando o trotar do cavalinho. Fazemos sons com batidas no peito, nas coxas, com a língua e a boca. Fazemos o cavalinho correr quando leio bem rápido e o cavalinho andar bem de-va-gar quando leio bem de-va-gar. As crianças se divertem e marcam com os movimentos o ritmo do poema.


Outros poetas também participam das nossas leituras: José Paulo Paes, Cecília Meireles, Roseana Murray, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Elias José, Ferreira Gullar, Vinicius de Moraes, Oswald de Andrade, Paulo Leminski, Henriqueta Lisboa, entre outros.

O passo seguinte é fazer as crianças lerem muitos poemas no mesmo dia, sem que elas se deem conta do quanto leram. Distribuo cartõezinhos coloridos com cópias de poesias bem curtinhas. Nessa seleção também valem as poesias populares (as parlendas). Peço que leiam e troquem com os colegas do grupo quando terminarem. Depois com os colegas dos outros grupos, até que tenham lido muitos poemas. Peço que escolham o que mais gostaram e pergunto quem gostaria de ler “lá na frente”, para o grupo. Quase todos querem ler suas poesias escolhidas. Fazem fila para ler! Neste momento estou ao lado das crianças ( para “soprar” no ouvido se for preciso) , pois algumas crianças ainda não atingiram o nível de leitura fluente. É preciso ler para que elas possam repetir os versos lidos, para darem conta de sua leitura oral. Para finalizar esta etapa, as crianças ilustram com desenhos os poemas preferidos e os levam para casa, para compartilhar a leitura com seus responsáveis.

Num outro momento, distribuo cópias de um poema, leio e peço para que destaquem as palavras que rimam. Brincamos com as palavras, conversamos sobre as rimas, versos e estrofes, repetições e as imagens sugeridas a partir da leitura do poema.

Nesta etapa vale reescrever um poema escolhido, ilustrar e colar no caderno ou dar de presente para alguém especial. As crianças adoram pintar e bordar com os poemas!
Com os alunos do 4º e do 5º anos tudo continua valendo – as brincadeiras, as escolhas, o ambiente propício para a troca de ideias, sentimentos e emoções. Vale lembrar que esses alunos já passaram por estas etapas nos anos anteriores e já foram fisgadas pelo poder e encantamento da palavra poética. Sendo assim, ofereço poemas de autores tais com Adélia Prado, Cora Coralina, Drummond, Luis de Camões, que são meus favoritos, porque me dizem muito e me emocionam a cada leitura. É o momento da Roda de Leitura com poesias. Nesta etapa do projeto vamos aprofundar o olhar e conhecer melhor quem escreveu o poema que entrou na Roda.


Roda de Leitura

Para cada Roda de Leitura realizada escolho poemas curtos dentre os meus favoritos. Faço cópias, distribuo para os participantes e começo a atividade lendo para eles. Em seguida vou ouvindo cada aluno(a) ler e sugerindo os ajustes necessários. Quero que leiam bonito: com entonação, usando as pausas, que sintam prazer em ler e que compreendam o que estão lendo. Partilho com meus alunos alguns poemas que adoro!

Ensinamento

(Adélia Prado)

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo,
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
‘Coitado, até essa hora no serviço pesado’.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Poeminha Amoroso

(Cora Coralina)

Este é um poeminha de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servira a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

A literatura toca fundo na emoção. Que poder têm as palavras!

É na roda que ficamos mais íntimos, trocamos ideias, falamos do que sentimos, falamos da vida, da beleza que a literatura nos proporciona. E conversamos muito sobre o que está nas linhas e nas entrelinhas dos textos poéticos. Os poemas Ensinamento e Poeminha Amoroso conversam entre si, se complementam, pois um deixa no ar a palavra não dita; o outro fala escancaradamente do amor.

As poesias guardam histórias, registram emoções, atravessam vidas. A cada leitura de poemas há uma descoberta de caminhos que nos fazem conhecer o mundo a nossa volta.


Ao término da Roda de Leitura, cada aluno leva uma tarefa para casa. Peço que leiam em voz alta para um adulto e que tragam notícias para o próximo encontro de como foi a recepção do poema lido.

Na semana seguinte inicio a Roda ouvindo os relatos dos alunos de como foi a recepção em casa. Quero que os poemas ultrapassem os muros da escola, pois crianças leitoras também são promotoras de leituras.

O próximo passo é exercitar a memória, tentando guardar os poemas de cor para recitá-los depois. A brincadeira é dramatizar a leitura, sentir o texto saindo de dentro, saindo da pele e perder a inibição.

No projeto “Poesia é bom mesmo... fora da estante!” a cada ano de escolaridade vou oferecendo “doses homeopáticas” de poesia para os alunos, para que se tornem apreciadores de boa literatura.

O prazer que as crianças sentem ao ler e ouvir poemas me inspira e se transforma em fôlego novo para muitas, muitas outras leituras... de poesia.


BIBLIOGRAFIA:


AGUIAR, Vera (Coord.). Poesia fora da estante. 6ª ed. Porto Alegre. Projeto. 1999

BARROS, Manoel de. Tratado geral das grandezas do ínfimo. Rio de Janeiro. Record. 2001

BARTHES,Roland. O Prazer do texto. 3ª ed. São Paulo. Perspectiva. 1973

CAPARELLI, Sérgio. O boi da cara preta. 23ª ed. Porto Alegre. L&PM.1996

CORALINA, Cora. Vintém de cobre – Meias confissões de Aninha. Goiás. Universidade Federal de Goiás. 1983

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro. Editora Objetiva LTDA.2002

Rosangela Sivelli, professora da Sala de Leitura de E. M. Barão Homem de Melo, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro

sexta-feira, 9 de abril de 2010

SUPERANDO O BE-A-BÁ DA FONOLETRA

Colegas de Sala de Leitura
É extremamente importante levar este texto para discussão em Centros de Estudos.
A Sala de Leitura tem importante papel no reforço escolar, com o texto literário, mas temos que ter embasamento teórico para fundamentar nossas atuações e discussões em nossas escolas. Este também é nosso papel como formadores de leitores junto aos professores. É a famosa parceria e planejamento conjunto com Direção e Coordenador Pedagógico. Vamos para o "play" e brincar direito.
Abçs a todas e todos
Beth e Regina


Superando o be-a-bá da fonoletra
Ludmila Thomé de Andrade
O senhor João Batista de Oliveira escreveu a este jornal na terça feira, dia 06 de abril, e apresentou sua opinião a respeito das ações sobre a alfabetização no município do Rio de Janeiro. Coloca em campos opostos o Sindicato dos professores do Rio de Janeiro e os professores e diretores de escolas da nossa rede, no que diz respeito à utilização de um método de ensino da língua escrita a crianças cariocas.
Termina seu artigo louvando o fato de que o Brasil incomode-se finalmente com a qualidade da educação. Propõe que se fale de alfabetização. Aceitamos o convite, já não era sem tempo que o debate chegasse aos jornais, pois muito tem sido publicado e discutido pelas instâncias produtoras de conhecimento que vêm se ocupando do tema.
Nem todos os leitores estão atentos para o fato de que o relator das posições em questão (sindicato, de um lado, diretores e professores de outro, secretaria tomando suas providências) é o autor de um método de alfabetização, Alfa e Beto, por ele defendido no artigo. Neste, a metodologia empregada é de caráter estritamente fônico, ou seja, concentrado nos fonemas, considerando cada letra como unidade pedagógica, ou seja, cada lição correspondendo a uma função de representação dos sons de uma língua que esta pode ter. Também é sabido que a nossa Secretaria Municipal de Educação em 2010 implementa, atualmente, a título exploratório, o método Alfa e Beto em um conjunto de 53 escolas, do mesmo modo como vem dando espaço para outras entidades particulares atuarem experimentalmente em conjuntos menores (dez escolas na comunidade da Maré, por exemplo, estão trabalhando este ano com a metodologia de Yvone Mello, também de caráter fônico, chamada Uerê-Mello). No fim deste ano, a SME realizará uma avaliação externa em todas as turmas de 1º ano para identificar o sucesso das diferentes práticas de alfabetização desenvolvidas nas escolas municipais. A escolha por grupos privados em detrimento de produções de instituições educacionais públicas vem se tornando uma constante, recurso cada vez mais utilizado por secretarias do Brasil todo, como é notícia frequente nos jornais.
A secretaria de educação tem justificado suas ações pelos mesmos argumentos utilizados por J. B. Oliveira. Apontam-se: a urgência em agir, diante de um fracasso abissal que grassa em terreno educacional carioca, em contraste com a evidência do sucesso do método em contextos internacionais. De acordo com o presidente do grupo privado Alfa e Beto, as experiências da secretaria, embora impopulares, estariam buscando sanar o grave problema do analfabetismo no Rio de Janeiro e seu método estaria de acordo com o consenso da comunidade científica internacional. Resta saber se estão levando em conta as vozes nacionais de suma seriedade que se ocupam das questões educacionais brasileiras. Apelar para argumentos internacionais sem ouvir o que dizem nossos especialistas educadores tupiniquins parece desmerecer por si a qualidade do próprio argumento.
O método fônico foi utilizado no Brasil em outros tempos. Talvez ainda possua o proclamado sucesso em realidades internacionais que se assemelham sociologicamente a estes tempos de ouro de nossa escola pública, quando esta funcionava bem para a camada elitizada que a freqüentava. Entretanto, lembrar do sucesso desta época é esquecer que nesta ocasião não nos atínhamos aos censos, nos quais se encontrava cravada a estatística de perto da metade da população completamente analfabeta. Muita água rolou, para acompanhar os desdobramentos de nossa escola, que mudou também. Os problemas de países diferentes são muito diferentes. De brasileiros, quem mais entende somos nós, brasileiros. Foi-se o tempo das políticas dos governos militares em que se importavam o que funcionava em contextos dominantes (acordos MEC/EUA) na escola pública dos países de letrados.
Hoje, em exames de avaliação nacionais (Geres, por exemplo) os resultados mostram que a criança até aprende a ler, se ler significar aprender esta relação fundamental de representação sobre o funcionamento das letras e sons, que serve de base à escrita. Entretanto elas são retidas na continuação deste processo. Não empacam na tradução de letras em fonemas, para elas o sistema fonético brasileiro não chega a ser um fantasma, a questão é a leitura e a escrita a serem produzidas na cultura.
O que está sendo deixado de fora do arrazoado do presidente do grupo privado é que esta não é a única proposta elaborada e disponível para a alfabetização no Brasil, muitas outras concorrem com ela. No Brasil, há um investimento maciço da comunidade de pesquisadores em educação a respeito do tema. Grandes centros de pesquisa pertencentes à Rede Nacional de Formação Continuada do Ministério da Educação vêm atuando em programas nacionais, nos diversos estados brasileiros. No Brasil, destacam-se o CEALE, da UFMG, e o CEEL, da UFPE. No Rio de Janeiro, as diversas universidades públicas estão presentes no debate, com grupos de pesquisa e ações de formação de professores como o Proalfa (UFF) e o LEDUC (UFRJ). Pesquisadores ligados a estes grupos e/ou independentes atuam intensa e frequentemente nas produções da ANPED, no GT de alfabetização, leitura e escrita. A discussão sobre a alfabetização escolar de crianças tem trazido várias propostas de princípios, concepções e formas didáticas para o ensino da língua escrita no Brasil, diretamente contextualizadas em nossa cultura, articuladas a nossa forma predominantemente oral de relação com a linguagem e com a língua escrita. Além da importante produção de propostas para a escola, os pesquisadores vêm atuando diretamente nos PNLDs, programas de avaliação dos livros didáticos a serem distribuídos pelo Ministério às escolas brasileiras (na lista de livros aprovados pelo PNLD 2010 de Livros de Alfabetização não consta o método do senhor João Batista), tanto quanto dos PNBEs, nas avaliações dos livros de literatura infantil e juvenil, que chegam às salas de leitura e bibliotecas escolares, bem como em programas de formação continuada, como o Pró-Letramento e o Gestar, dentre muitas outras ações importantes às quais vem comparecendo a Universidade Pública. Congressos, livros e ações têm sido realizadas a respeito das inovações propostas inclusive junto a secretarias. Nestes, o método de alfabetização de hegemonia fônica é atestado como um efetivo retrocesso, afastando as crianças de uma perspectiva cultural, enraizando-as em práticas cognitivas restritivas, de caráter técnico, sem chance de inscrevê-las em qualquer processo de fortalecimento de sua cidadania, de seu crescimento enquanto ser pensante na sociedade brasileira em que vivemos em 2010, na qual a letra ganha dimensões multimidiáticas e plurimodais, para além da fonoletra.
Ludmila Thomé de Andrade é professora da Faculdade de Educação da UFRJ, coordenadora do Laboratório de estudos de linguagem, leitura, escrita e educação (LEDUC), com ampla experiência como coordenadora e formadora de professores alfabetizadores da rede pública carioca em cursos de extensão, especialização e formação continuada de durações as mais variadas.

ESTE É O TEXTO DO PRESIDENTE DO INSTITUTO ALFA E BETO

A Língua é Viva
por João Batista Araujo e Oliveira
Leia artigo escrito pelo Prof. João Batista Araujo e Oliveira, Presidente do Instituto Alfa e Beto, e publicado dia 06 de abril de 2010, no Jornal O Globo.
Sob o pretexto de uma palavra de conotação chula em certas regiões do Rio de Janeiro, voltou à tona, na imprensa, a discussão sobre as questões de alfabetização. Descartemos o pretexto para entrar logo no mérito.
Dos 110 livros usados para desenvolvimento da fluência de leitura num programa de alfabetização adotado em dezenas de escolas, o Sindicato dos Professores identificou uma palavra que, pontualmente, pode ter duplo sentido. Dizendo-se indignado, o Sindicato, em vez de buscar o diálogo, vai à imprensa e à Justiça contra a Secretaria de Educação. 
Examinemos a questão. A palavra usada não é um palavrão, como não o é o sobrenome Pinto. É um diminutivo, um nome que a criança dá ao seu chinelo. O mesmo texto é usado há pelo menos 7 anos, em centenas de municípios, sem  polêmica ou constrangimento. É impossível a qualquer autor driblar todos os sentidos que uma palavra tem, teve ou pode vir a ter em comunidades diferentes da mesma língua.
Vale lembrar que esse Sindicato já agiu assim antes, criticando um texto da cultura popular, reescrito por Cecília Meireles. O processo foi arquivado – mas o arquivamento não foi notícia.  Estamos no mundo do politicamente correto. A acusação é sempre a priori.
Mas o problema não é esse. Se fosse, a discussão se daria nos canais competentes. O que há são reações ao esforço da Secretaria Municipal de Educação no sentido de melhorar o ensino. Nas escolas do Rio, a nota da Prova Brasil na 4ª série vai de 150 a 230 pontos. Este sim é grave problema pedagógico: uma criança é sorteada para uma escola no limite inferior e seu vizinho para a que alcança 230 pontos. Essa dispersão – própria de sistemas sem comando – não é objeto de denúncia, nem suscita interesse da mídia. Só um exemplo: no município de Sobral/CE, a pior escola chega a 170 pontos, e a melhor, a 200. A pior dali, onde 60% dos alunos recebem bolsa família, é melhor que a maioria das escolas do Rio. Lá as orientações da Secretaria chegam às escolas, são implementadas e os resultados aparecem.
Na verdade, a insatisfação do Sindicato – não partilhado por professores e escolas – é a adoção do método fônico. Quem acompanha a evolução da pedagogia, sabe que os métodos fônicos são usados em praticamente todos os países que adotam o Sistema Alfabético de Escrita, são comprovadamente mais eficazes em geral e são mais eficazes que outros métodos para alfabetizar crianças com dificuldades no aprendizado. Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências divulgou relatório a esse respeito. A eficácia de um método não depende de torcida da arquibancada. Depende de evidências cumulativas, que se tornam consenso na comunidade científica internacional.
Com base nisso, cabe indagar sobre a responsabilidade de uma Secretaria de Educação perante uma população em que mais da metade dos alunos chega à 4ª série sem compreender o que lê. No caso específico do programa alvo das críticas do Sindicato, a Secretaria consultou as escolas e o implementou onde os diretores o escolheram.
Felizmente o Brasil começa a se incomodar com a qualidade da educação. Felizmente algumas secretarias, como a do Rio, vêm tomando medidas importantes – por vezes impopulares – para melhorar o desempenho de escolas, professores e das crianças. Felizmente os diretores e professores, em sua esmagadora maioria, cultivam o bom senso e buscam o que dá resultado.  Vamos falar de alfabetização?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ELETRÔNICOS DURAM 10 ANOS; LIVROS, 5 SÉCULOS

Publicada no jornal O Estado de S. Paulo em 13 de março de 2010.
Ensaísta e escritor italiano fala em entrevista exclusiva de seu novo trabalho, 'Não Contem com o Fim do Livro'
13 de março de 2010

O bom humor parece ser a principal característica do semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco. Se não, é a mais evidente. Ao pasmado visitante, boquiaberto diante de sua coleção de 30 mil volumes guardados em seu escritório/residência em Milão, ele tem duas respostas prontas quando é indagado se leu toda aquela vastidão de papel. "Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade" - é a sua preferida. "Não li nenhum", começa a segunda. "Se não, por que os guardaria?"
Na verdade, a coleção é maior, beira os 50 mil volumes, pois os demais estão em outra casa, no interior da Itália. E é justamente tal paixão pela obra em papel que convenceu Eco a aceitar o convite de um colega francês, Jean-Phillippe de Tonac, para, ao lado de outro incorrigível bibliófilo, o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, discutir a perenidade do livro tradicional. Foram esses encontros ("muito informais, à beira da piscina e regados com bons uísques", informa Umberto Eco) que resultaram em Não Contem Com o Fim do Livro, que a editora Record lança na segunda quinzena de abril.
A conclusão é óbvia: tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo. Qualquer dúvida é sanada ao se visitar o recanto milanês de Eco, como fez o Estado na última quarta-feira. Localizado diante do Castelo Sforzesco, o apartamento - naquele dia soprado por temperaturas baixíssimas, a neve pesada insistindo em embranquecer a formidável paisagem que se avista de sua sacada - encontra-se em um andar onde antes fora um pequeno hotel. "Se eram pouco funcionais para os hóspedes, os longos corredores são ótimos para mim pois estendo aí minhas estantes", comenta o escritor, com indisfarçável prazer, ao apontar uma linha reta de prateleiras repletas que não parecem ter fim. Os antigos quartos? Transformaram-se em escritórios, dormitórios, sala de jantar, etc. O mais desejado, no entanto, é fechado a chave, climatizado e com uma janela que veda a luz solar: lá estão as raridades, obras produzidas há séculos, verdadeiros tesouros. Isso mesmo: tesouros de papel.
Conhecido tanto pela obra acadêmica (é professor aposentado de semiótica, mas ainda permanece na ativa na Faculdade de Bolonha) como pelos romances (O Nome da Rosa, publicado em 1980, tornou-se um best-seller mundial), Eco é um colecionador nato; além de livros, gosta também de selos, cartões-postais, rolhas de champanhe. Na sala de seu apartamento, estantes de vidro expõem tantos os livros raros - que, no momento, lideram sua preferência - como conchas, pedras, pedaços de madeira. As paredes expõem quadros que Eco arrematou nas visitas que fez a vários países ou que simplesmente ganhou de amigos - caso de Mário Schenberg (1914-1990), físico, político e crítico de arte brasileiro, de quem o escritor guarda as melhores recordações.
Aos 78 anos, Eco - que tem relançado no País Arte e Beleza na Estética Medieval (Record, 368 págs., R$ 47,90, tradução de Mario Sabino) - exibe uma impressionante vitalidade. Diverte-se com todo tipo de cinema (ao lado de seu aparelho de DVD repousa uma cópia da animação Ratatouille), mantém contato com seus alunos em Bolonha, escreve artigos para jornais e revistas e aceita convites para organizar exposições, como a que o transformou, no ano passado, em curador, no Museu do Louvre, em Paris. Lá, o autor teve o privilégio de passear sozinho pelos corredores do antigo palácio real francês nos dias em que o museu está fechado. E, como um moleque levado, aproveitou para alisar o bumbum da Vênus de Milo. Foi com esse mesmo espírito bem-humorado que Eco - envergando um elegante terno azul-marinho, que uma revolta gravata da mesma cor tratava de desalinhar; o rosto sem a característica barba grisalha (raspada religiosamente a cada 20 anos e, da última vez, em 2009, também porque o resistente bigode preto o fazia parecer Gengis Khan nas fotos) - conversou com a reportagem do Sabático.
O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?
O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.
Qual a diferença entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca?
A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, em seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de selecionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.
Não é possível prever o futuro da internet?
Não para mim. Quando comecei a usá-la, nos anos 1980, eu era obrigado a colocar disquetes, rodar programas. Hoje, basta apertar um botão. Eu não imaginava isso naquela época. Talvez, no futuro, o homem não precise escrever no computador, apenas falar e seu comando de voz será reconhecido. Ou seja, trocará o teclado pela voz. Mas realmente não sei.
Como a crescente velocidade de processar dados de um computador poderá influenciar a forma como absorvemos informação?
O cérebro humano é adaptável às necessidades. Eu me sinto bem em um carro em alta velocidade, mas meu avô ficava apavorado. Já meu neto consegue informações com mais facilidade no computador do que eu. Não podemos prever até que ponto nosso cérebro terá capacidade para entender e absorver novas informações. Até porque uma evolução física também é necessária. Atualmente, poucos conseguem viajar longas distâncias - de Paris a Nova York, por exemplo - sem sentir o desconforto do jet lag. Mas quem sabe meu neto não poderá fazer esse trajeto no futuro em meia hora e se sentir bem?
É possível existir contracultura na internet?
Sim, com certeza, e ela pode se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas batendo papo, na China é a única forma de se manter contato com o restante do mundo.
Em um determinado trecho de 'Não Contem Com o Fim do Livro', o senhor e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar.
De fato, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. Minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava na Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje para um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta dar um clique no computador para obter essa informação. Lembro que, na escola, eu era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço para as fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória. Lembro-me de uma maravilhosa história de ficção científica escrita por Isaac Asimov, nos anos 1950. É sobre uma civilização do futuro em que as máquinas fazem tudo, inclusive as mais simples contas de multiplicar. De repente, o mundo entra em guerra, acontece um tremendo blecaute e nenhuma máquina funciona mais. Instala-se o caos até que se descobre um homem do Tennessee que ainda sabe fazer contas de cabeça. Mas, em vez de representar uma salvação, ele se torna uma arma poderosa e é disputado por todos os governos - até ser capturado pelo Pentágono por causa do perigo que representa (risos). Não é maravilhoso?
No livro, o senhor e Carrière comentam sobre como a falta de leitura de alguns líderes influenciou suas errôneas decisões.
Sim, escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a atual cultura americana que parece questionar a validade de se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscou por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, O Crisântemo e a Espada. De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro.
Diversos historiadores apontam os ataques terroristas contra os americanos em 11 de setembro de 2001 como definidores de um novo curso para a humanidade. O senhor pensa da mesma forma?
Foi algo realmente modificador. Na primeira guerra americana contra o Iraque, sob o governo de Bush pai, havia um confronto direto: a imprensa estava lá e presenciava os combates, as perdas humanas, as conquistas de território. Depois, em setembro de 2001, se percebeu que a guerra perdera a essência de confronto humano direto - o inimigo transformara-se no terrorismo, que podia se personificar em uma nação ou mesmo nos vizinhos do apartamento ao lado. Deixou de ser uma guerra travada por soldados e passou para as mãos dos agentes secretos. Ao mesmo tempo, a guerra globalizou-se; todos podem acompanhá-la pela televisão, pela internet. Há discussões generalizadas sobre o assunto.
Falando agora sobre sua biblioteca, é verdade que ela conta com 50 mil volumes?
Sim, de uma forma geral. Nesse apartamento em Milão, estão apenas 30 mil - o restante está no interior da Itália, onde tenho outra casa. Mas sempre me desfaço de algumas centenas, pois, como disse antes, é preciso fazer uma filtragem.
Por que o senhor impediu sua secretária de catalogá-los?
Porque a forma como você organiza seus livros depende da sua necessidade atual. Tenho um amigo que mantém os seus em ordem alfabética de autores, o que é absolutamente estúpido, pois a obra de um historiador francês vai estar em uma estante e a de outro em um lugar diferente. Eu tenho aqui literatura contemporânea separada por ordem alfabética de países. Já a não contemporânea está dividida por séculos e pelo tipo de arte. Mas, às vezes, um determinado livro pode tanto ser considerado por mim como filosófico ou de estética da arte; depende do motivo da minha pesquisa. Assim, reorganizo minha biblioteca segundo meus critérios e somente eu, e não uma secretária, pode fazer isso. Claro que, com um acervo desse tamanho, não é fácil saber onde está cada livro. Meu método facilita, eu tenho boa memória, mas, se algum idiota da família retira alguma obra de um lugar e a coloca em outro, esse livro está perdido para sempre. É melhor comprar outro exemplar (risos).
Um estudioso que também é seu amigo, Marshall Blonsky, escreveu certa vez que existe de um lado Umberto, o famoso romancista, e de outro Eco, professor de semiótica.
E ambos sou eu (risos). Quando escrevo romances, procuro não pensar em minhas pesquisas acadêmicas - por isso, tiro férias. Mesmo assim, leitores e críticos traçam diversas conexões, o que não discuto. Lembro de que, quando escrevia O Pêndulo de Foucault, fiz diversas pesquisas sobre ciência oculta até que, em um determinado momento, elas atingiram tal envergadura que temi uma teorização exagerada no romance. Então, transformei todo o material em um curso sobre ciência oculta, o que foi muito bem-feito.
Por falar em 'O Pêndulo de Foucault', comenta-se que o senhor antecipou em muito tempo O Código de Da Vinci, de Dan Brown.
Quem leu meu livro sabe que é verdade. Mas, enquanto são os meus personagens que levam a sério esse ocultismo barato, Dan Brown é quem leva isso a sério e tenta convencer os leitores de que realmente é um assunto a ser considerado. Ou seja, fez uma bela maquiagem. Fomos apresentados neste ano em uma première do Teatro Scala e ele assim se apresentou: "O senhor não me admira, mas eu gosto de seus livros." Respondi: Não é que eu não goste de você - afinal, eu criei você (risos).
Em seu mais conhecido romance, O Nome da Rosa, há um momento em que se discute se Jesus chegou a sorrir. É possível pensar em senso de humor quando se trata de Deus?
De acordo com Baudelaire, é o Diabo quem tem mais senso de humor (risos). E, se Deus realmente é bem-humorado, é possível entender por que certos homens poderosos agem de determinada maneira. E se ainda a vida é como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, como Shakespeare apregoa em Macbeth, é preciso ainda mais senso de humor para entender a trajetória da humanidade.
Como foi a exposição no Museu do Louvre, em Paris, da qual o senhor foi curador, no ano passado?
Há quatro anos, o museu reserva um mês para um convidado (Toni Morrison foi escolhida certa vez) organizar o que bem entender. Então, me convidaram e eu respondi que queria fazer algo sobre listas. "Por quê?", perguntaram. Ora, sempre usei muitas listas em meus romances - até pensei em escrever um ensaio sobre esse hábito. Bem, quando se fala em listas na cultura, normalmente se pensa em literatura. Mas, como se trata de um museu, decidi elaborar uma lista visual e musical, essa sugerida pela direção do Louvre. Assim, tive o privilégio (que não foi oferecido a Dan Brown) de visitar o museu vazio, às terças-feiras, quando está fechado. E pude tocar a bunda da Vênus de Milo (risos) e admirar a Mona Lisa a apenas 20 centímetros de distância.
O senhor esteve duas vezes no Brasil, em 1966 e 1979. Que recordações guarda dessas visitas?
Muitas. A primeira, em São Paulo, onde dei algumas aulas na Faculdade de Arquitetura (da USP), que originaram o livro A Estrutura Ausente. Já na segunda fui acompanhado da família e viajamos de Manaus a Curitiba. Foi maravilhoso. Lembro-me de meu editor na época pedindo para eu ficar para o carnaval e assistir ao desfile das escolas de samba de camarote, o que não pude atender. E também me recordo de imagens fortes, como a da moça que cai em transe em um terreiro (para o qual fui levado por Mario Schenberg) e que reproduzo em O Pêndulo de Foucault.

REGULAMENTO DO CONCURSO MARIA FUMAÇA DE LITERATURA INFANTIL


Regulamento do MARIA FUMAÇA - I Concurso Nacional de Literatura e de Ilustração Infanto Juvenil
I Concurso Nacional de Literatura e Ilustração Infanto-Juvenil
Alma Consultoria e Pé de Feijão Livraria estão organizando Maria Fumaça - I Concurso Nacional de Literatura e Ilustração Infanto Juvenil - 2010, destinado a crianças e adolescentes, dos 6 aos 16 anos que estejam devidamente matriculados no Ensino de Rede Pública ou Privada e que residam no Brasil. O Concurso tem por objetivo descobrir novos talentos, incentivar a escrita, a leitura e desenhos e promover o prazer na produção da estética literária e de imagens (ilustração). O tema do concurso será de acordo com a categoria a ser verificada pela idade:

Categoria Mirim: dos 6 aos 8 anos: De onde vem as árvores?
Categoria Infantil: dos 9 aos 12 anos: A floresta que chora
Categoria Juvenil: dos 13 aos 16 anos: Quem é a mãe da mãe terra?
A mesma criança ou adolescente poderá participar do concurso enviando, no máximo, 1 (um) texto e 1 (uma) ilustração em folhas separadas, assim como poderá enviar somente o texto ou a ilustração, desde que identificadas por um pseudônimo.
A ilustração deverá ser feita em papel A4 branco, e o ilustrador só poderá utilizar lápis de cor e giz de cera. O texto poderá ser em prosa ou em verso e sem limite de linhas. Será levado em conta para a seleção do material (tanto a ilustração quanto o texto) a inovação do artista, a imaginação e a criatividade em relação à abordagem do tema.
A inscrição é gratuita e para fazê-la a criança ou o responsável deverá apresentar o texto, a ilustração ou ambos com o pseudônimo e a categoria. Numa folha a parte deverá ter os seguintes dados: Nome Completo, Pseudônimo, Data de Nascimento, Idade, Escola, Endereço e a categoria. Enviar para Pé de feijão Livraria, Rua Comendador Costa, 611/22 – Centro – São Lourenço - MG – Cep: 37470-000.
O prazo para o envio será até 10 de maio de 2010, presencialmente na Livraria Pé de Feijão ou pelos correios com carimbo de envio até o último dia da inscrição.
Ao fazer a inscrição, o autor e o ilustrador estarão concordando com as regras do concurso, inclusive autorizando a publicação da obra no Jornal Correio do Papagaio. Não haverá devolução dos textos ou das ilustrações pós seleção.
Os três primeiros finalistas nas categorias Mirim, Infantil e Infanto-Juvenil de Ilustração e Literatura receberão medalhas e troféus, brinquedos e jogos educativos além da publicação no Jornal Correio do Papagaio.
A Comissão Julgadora será composta de 3 (três) membros na área de artes plásticas ilustração e design para selecionar a melhor ilustração, e 3 (três) profissionais na área de literatura, educação e comunicação para selecionar o melhor texto.
CRONOGRAMA
Inscrições: até 10 de maio de 2010,
Revelação dos finalistas e Entrega dos prêmios no dia 30 de maio de 2010 às 14 horas no Parque Shopping. Rua Comendador Costa, 611 – Centro – São Lourenço
Informações através do e-mail mariafumaca@almaconsultoria.com.br e telefone (0xx35) 3332-2434.
Retirado do blog: http://mariafumacaconcursodeliteraturaeilust.blogspot.com

ASSOCIAÇÃO DE LEITURA DO BRASIL/DESAFIOS DO MAGISTÉRIO

Já estão abertas as inscrições para o Fórum Desafios do Magistério, que será realizado dia 15 de abril de 2010 (quinta-feira) das 9h00 as 17h00 no Centro de Convenções da Unicamp, ao final do evento os participantes que confirmarem presença integral no evento receberão certificado.
O tema deste fórum é: Biblioteca e Leitura: a questão da mediação.
Faça sua inscrição gratuíta pelo site: http://www.cori.unicamp.br/foruns/magis/foruns_magis.php

DIRETORIA ALB
2009/2010

PROJETO DE LITERATURA DA ESCOLA MUNICIPAL GOIÁS

O Projeto Concurso Literário aconteceu no ano de 2009, na Escola Municipal Goiás, no Encantado na 3ªCRE.
O projeto foi idealizado pelo Professor Carlos Maurício Cruz, da Sala de Leitura. O tema foi AMIZADE.
As alunas da foto abaixo foram as três  primeiras colocadas...

1° Lugar
         Existe uma força que sabe nos tirar o chão, que nos faz rir, nos faz chorar, que fala, que nos faz falar, que tira nossa voz e nos faz gritar.
Existe uma força chamada Amizade, que consegue unir dois corações numa só parte. Amizade sincera, amizade completa, amizade repleta de felicidade. Amor sem fim, irmandade perfeita. Para tudo o amigo da gente dá um jeito.
          Parceria eterna, que não morre nunca, amigo que não dá notícia nos deixa maluca. Amigo sabe nos deixar para cima, amigo sabe quando a gente não está no clima.
          Amigo me entende com um olhar, eu nem abro a boca e ele já vem me abraçar. Mal ele sabe o bem que me faz, pois sem ele eu não durmo, eu não tenho paz.
          Eu te amo muito e não sei explicar, qualquer coisa é só me ligar.

Letícia Souza Turma 1701
E. M. 03.13.042 Goiás

2° Lugar
Amizade...

          Amizade é um fruto que nasce do coração de duas pessoas ou mais...
          Que, ao se tornarem amigas, são como irmãs que foram separadas dos pais.
          E, sempre que precisarem de ajuda, podem contar com suas amigas
          Que, com toda a certeza, vão ajudá-las por toda a vida.

          E tudo passa...
          O ódio passa, a mágoa passa, a alegria e a tristeza passam, mas o que nunca passará é a amizade verdadeira
          Que sempre crescerá e lhe será útil uma vida inteira.

          Sempre haverá pessoas falsas para lhe prejudicar
          Mas teremos os verdadeiros amigos para nos alertar.
          Amizade é coisa rara, quando é pura e verdadeira
          É como um diamante: cada um é único.

          Amizade verdadeira é daquele amigo que sempre estará disposto a arriscar tudo por você
          Até mesmo sem você merecer...


Vívian Pitança Sombra Turma 1702
E. M. 03.13.042 Goiás

3° Lugar
Amizade

          Amigo é para a vida inteira.
          Amigo se faz em tempo de paz,
          mas é na luta que se prova o seu valor.
          Quem é amigo suporta e crê.
          Quem é amigo o é até a morte.

          Um verdadeiro amigo sabe o valor do perdão.
          Pode errar e magoar
          Mas está por perto para ajudar
          É amigo até o fim.


Esthefany Paes de Lira Turma 1701
E. M. 03.13.042 Goiás
I Concurso Literário Sala de Leitura





HISTÓRIA DA ÁFRICA NO COTIDIANO ESCOLAR

A NANDYALA publicou o Almanaque ÁFRICA especialmente para você, Professor, Professora. É o material pedagógico ideal para a introdução da História da África no cotidiano escolar, conforme prevê a Lei 10.639/2003.



Por meio de orientações metodológicas, referências da história, das culturas, dos intelectuais e das personalidades africanas, mapas, jogos e reflexões de base científica, o Almanaque ÁFRICA é um suporte didático prático, dinâmico, lúdico e eficiente para você.
Informações: 31-3281-5894 ou atendimento@nandyalalivros.com.br

HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA corresponde a um excelente suporte técnico-científico para a prática pedagógica cotidiana no contexto do PLANO NACIONAL DE IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ETNICORRACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFROBRASILEIRA E AFRICANA, nos Ensinos Fundamental e Médio. Com a competência, militância e dinamismo que lhe são peculiares, a pedagoga Rosa Margarida introduz o(a) educador(a) no universo histórico-cultural africano, em efetivo diálogo com a geografia, economia, política e literatura, convidando-o(a) a uma contínua referenciação aos saberes tradicionais e à intelectualidade contemporânea de África. Este Almanaque Pedagógico, sem dúvida, colabora significativamente com o atual processo de implantação da Lei 10.639/2003 e, ao mesmo tempo, subsidia o Sistema Educacional Brasileiro para a construção de um ambiente social sustentável, sem racismo, sexismo e outros ‘ismos’ que, historicamente, desrespeitam, oprimem e ferem a dignidade humana.” (Iris Amâncio)

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