terça-feira, 31 de julho de 2012

HÁ 106 ANOS ATRÁS NASCIA MÁRIO QUINTANA

Inverno, 30 de julho de 2012.

                                             
 
                 A paz em versos de Quintana!!! Em 30 de julho de 1906 nasceu Mário Quintana, na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul...  Há 106 anos atrás...
              E para aquecer esta segunda-feira luminosa  nada como o calor da  poesia em seus versos de quintanares cantares...Uma homenagem ao meu poeta de cabeceira,  junto com Drummond , Cecilia e Bandeira...
 
                                                                                   
                                                                                    UM VOO DE ANDORINHA
Um voo de andorinha
deixa no ar o risco de um frêmito...
Que é isto, coração?! Fica aí, quietinho:
chegou a idade de dormir!
Mas
Quem é que pode parar os caminhos?
E os rios cantando e correndo?
E as folhas ao vento? E os ninhos...
E a poesia...
A poesia como um seio nascendo...
               
                  VIVER
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar
E voar...
            e voar...
            cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!
 
 
 
É... voem com a poesia deste poeta sonhador e tenham um dia inspirado. Boa semana pra vocês, muita paz e poesia no coração. Um abraço,
                                                                                   Fátima Miguez

segunda-feira, 30 de julho de 2012

MOSTRA 100 ANOS DE JORGE AMADO: O ROMANCE, A BAHIA E O CINEMA



De 7 a 12 de agosto acontece na Caixa Cultural do Rio de Janeiro a Mostra 100 Anos de Jorge Amado: O Romance, a Bahia e o Cinema. O evento é uma homenagem aos 100 anos de nascimento de um dos mais importantes autores nacionais.
Serão exibidos mais de 10 filmes, entre longas e curtas-metragens, ficções e documentários, além da realização de palestras sobre o processo de transposição da poesia de Jorge Amado para as telas dos cinemas, com participação de Cacá Diegues, Guy Gonçalves e mediação de Rodrigo Fonseca..

Segue a lista de filmes que compõem a mostra:
 - Tieta do Agreste, Cacá Diegues
 - Meu adorável Fantasma – Kiss me Goodbye, Robert Mulligan -baseado no livro Dona Flor e seus dois maridos;
 - Dona Flor e Seus Dois Maridos
 - Tenda dos Milagres, Nelson Pereira dos Santos
 - Jubiabá, Nelson Pereira dos Santos
 - Casa de Rio Vermelho, de
 - Jorge Amado, João Moreira Salles
 - Capitães de Areia, Cecília Amado
 - Capeta Carybé, Agnaldo Siri Azevedo
 - Jorjamado no Cinema, Glauber Rocha
 - Quincas Berro D’água, Sérgio Machado
 
 Onde: Caixa Cultural do Rio de Janeiro
 Av. Almirante Barroso, 25 - Centro -  Tel: (21)3980-3815
 Ingresso: R$2,00 inteira / R$1,00 meia

sábado, 7 de julho de 2012

IAN McEWAN e JENNIFER EGAN



























07/07/2012
 às 14:36

McEwan e Egan: viva a manipulação do leitor!

O fato de ambos serem escritores profundamente “literários” que 
recentemente incursionaram pelo gênero do romance de espionagem
 foi apenas um dos muitos pontos de contato entre o inglês Ian McEwan 
e a americana Jennifer Egan na mesa que se encerrou agora há pouco. 
O escritor e jornalista Arthur Dapieve, mediador de uma conversa fluida 
e variada à qual não faltaram elogios mútuos, talvez tenha arriscado um 
pouco ao chamar os convidados de “dois dos maiores escritores de língua
 inglesa da atualidade”. Se este é um título que McEwan carrega com 
enorme tranquilidade, Egan, mesmo com o talento que desfilou com 
clareza quase obscena no excelente “A visita cruel do tempo”, 
premiado com o Pulitzer, 
ainda parece precisar de mais estrada para confirmar o superlativo.
O romance que Ian McEwan está lançando em primeira mão na Flip, “Serena”,
 é uma história de espionagem que, como todas do gênero, tem reviravoltas surpreendentes – inclusive uma, a mais decisiva, relativa à identidade do 
narrador, que o leitor descobre na última linha. Depois de, surpreendentemente, 
entregar essa surpresa de bandeja no palco da Flip logo no início da conversa, 
o escritor disse esperar ver surgir no Brasil, “agora que o país está virando uma superpotência”, uma literatura do gênero, com seus componentes de paranoia e adivinhação dos desígnios do inimigo:
“Talvez todos os romances sejam romances de espionagem,
 num certo sentido”, disse. “O que contamos, o que deixamos de fora, 
quem é a pessoa que conta… 
Todo romance sonega informação, faz parte da cola que o mantém coeso. 
Talvez um dia a gente descubra que romances de espionagem não são um 
gênero, mas mainstream.”
Por coincidência, também é uma narrativa de espionagem, ainda 
que pouco convencional, o texto de Jennifer Egan cuja leitura McEwan
 recomendou efusivamente à plateia como “uma das melhores coisas 
que leio em anos”: a novela Black box, toda escrita sob a forma de
 tweets, publicada pela revista 
“New Yorker”.
Se a analogia com o mundo da espionagem não serve para qualquer 
literatura, certamente serve para a de McEwan e Egan, escritores que 
obviamente investem incontáveis horas de voo imaginativo na construção 
de tramas surpreendentes, que aqui e ali puxam o tapete do leitor. Nesse 
ponto, a arte de ambos é muito diferente daquela de Teju Cole e Paloma 
Vidal, que na mesa de ontem manifestaram desprezo pela dimensão 
da trama. Acusado pelo crítico americano James Wood, num ensaio do
 ano passado, de manipular o leitor, McEwan foi mordaz:
“Manipular o leitor é o prazer principal. Não se trata de sadismo. Ao me 
acusar de manipulador, o que James Wood estava fazendo era me
 acusar de ser romancista.” Jennifer Egan concordou: “A manipulação
 pela manipulação é um saco, a questão é que propósito ela tem. 
Vale a pena?Quando um romancista diz que estamos em Londres no 
século 18, é óbvio  que não estamos, isso é uma forma de manipulação. 
Que pode sermaravilhosa, se a história valer a pena”.
Os dois concordaram também sobre o futuro do romance. “Se nós, 
romancistas, trabalharmos direito, ele não vai acabar”, opinou Egan.
 “Dizem que os videogames ameaçam os romances. Eu gosto de games,
 mas o que mais me interessa é como eles podem ser incorporados 
a um romance.” McEwan optou pela abordagem histórica: “O romance 
é uma ferramenta, uma tecnologia que construímos ao longo de séculos. 
Claro que nós nos apoiamos nos ombros de gigantes: usamos sem 
pensar, com naturalidade, o discurso indireto livre de Jane Austen 
e Flaubert. Seria impossível criar tudo isso agora. É por isso que o 
romance não morre.”

SHAKESPEARE É ELE MESMO


 


RETIRADO DO SITE:  http://www.flip.org.br/noticias.php?id=754

Voltaire achava Shakespeare “vulgar”. Tolstoi não gostava do inglês. E Freud chegava a interromper sessões de análise para perguntar ao paciente de sopetão: “Você acredita em Shakespeare?” – como se o poeta, dramaturgo, ator e empresário do século XVI fosse uma espécie de deus, no qual se pode “acreditar” ou não. Se Voltaire e Tolstoi têm opiniões raras e poucos seguidores, Freud está em excelente companhia na “crença” de que Shakespeare não teria escrito Shakespeare. Com ele está gente tão brilhante como um Henry James, um Mark Twain ou um Francis Bacon, este um dos primeiros a duvidar, no final do século XVIII, de que o pobre William da pequena Stratford-upon-Avon pudesse ter produzido obra de tamanha magnitude.

Tudo isso é bobagem, garantem Stephen Greenblatt (à esquerda na foto) e James Shapiro, dois dos mais respeitados especialistas em Shakespeare no mundo, cansados desse tipo de dúvida. Os dois acabam de expor, na Tenda dos Autores, as razões – muitas e sólidas – pelas quais não têm a menor dúvida de que um indivíduo chamado William Shakespeare (1564-1616) de fato escreveu obras-primas como Hamlet ou Rei Lear. Para quem não anotou ou não entendeu as explicações, uma alternativa é ler os livros que ambos apresentam nesta Flip: pela Companhia das Letras, A virada, de Greenblatt, que foi professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e, em seguida, de Harvard; e pela Editora Planeta, 1599 – um ano na vida de William Shakespeare, de Shapiro, professor da Universidade Colúmbia.

A proclamada “ausência de documentos de época” sobre o bardo ou o fato de que contou com “colaboradores” para escrever muitas de suas peças são os dois argumentos mais usados para contestar a autoria da sua obra. E, no entanto, os dois argumentos revelam apenas uma vasta ignorância sobre os usos e costumes da época. “Não há surpresa alguma na ausência de documentos”, explicou Greenblatt. “Embora vivesse numa época muito burocrática, em que havia uma preocupação em registrar todos os passos de certas pessoas, Shakespeare não era uma dessas pessoas: era apenas um ator e dramaturgo, sem importância alguma.” Além disso, acrescentou, a Inglaterra já era oficialmente protestante, mas a mãe de Shakespeare era católica e, na verdade, quase todo mundo era católico. Como “o catolicismo então era equivalente à Al-Qaeda de hoje”, ele não tinha interesse algum em deixar uma trilha de documentos sobre suas origens ou suas ideias. “Shakespeare voava abaixo da linha do radar, tinha uma profunda aversão à prisão”, garantiu. Sobreviveram sua certidão de batismo, os recibos de impostos pagos em 1605 e seu testamento, entre outros parcos papéis. “A única coisa que gostaríamos de ter e não temos são os registros de suas sessões de análise”, brincou Greenblatt.

Quanto à questão das coautorias, Shapiro informou que, nos últimos dez ou 20 anos, os pesquisadores abandonaram a idolatria, o culto a Shakespeare nascido entre os alemães do século XVIII, e começaram a admitir que o bardo também trabalhou com um, dois ou mais colaboradores – como era praxe na época. “Temos de aceitar o fato de que Shakespeare era mortal e, como todo mundo, ele também colaborava”, acrescentou. Pelo menos três de suas últimas peças foram escritas em colaboração com três ou mais autores. Como se sabe? Todo autor tem impressões digitais literárias e há quem se debruce sobre os manuscritos para definir e reconhecer estilos. “Stephen e eu não fazemos isso, é um trabalho muito tedioso, mas tem sido feito e tem comprovado essas colaborações”, disse Shapiro.

Greenblatt, por sua vez, apressou-se a esclarecer que é “um idólatra” de Shakespeare: “Não é por acaso que seu trabalho colaborativo seja menos fascinante”. E aproveitou para informar que todos os enredos utilizados por Shakespeare não eram de sua criação; geralmente, eram peças já existentes e de muito sucesso, que ele reescrevia completamente – como fez com Hamlet e Rei Lear – “que já era encenado em Londres há dez anos em 1605, quando o texto foi finalmente impresso”, lembrou Shapiro.

“Mas ele retirava do texto original o elemento essencial que dava sentido ao texto e acabava com qualquer final feliz, promovendo uma verdadeira revolução no enredo”, acrescentou Greenblatt. E gritou um verso de Drummond, do poema que fora lido logo antes do início da mesa, para indicar o desespero do leitor/espectador em busca de explicações que Shakespeare não dá: “Fala fala fala fala fala fala!”

No cinema de hoje, disse ele, reaproveitar enredos é prática comum – é o famoso remake. “Todos os enredos de filmes se parecem, mas o dom especial de Shakespeare é que, mesmo quando ele é traduzido, adaptado, transformado, você ainda sente a força interna do texto”, disse Greenblatt.

Shapiro concordou que o grande talento do bardo era mesmo a habilidade para identificar o elemento que organizava o enredo original – e tratar logo de desorganizá-lo. Essa habilidade resultava de outra, igualmente extraordinária: a de reconhecer as mudanças de seu mundo e, de alguma forma, magicamente, ainda conseguir se comunicar com nosso mundo, 400 anos depois. “Ele enviou esses textos para o futuro”, acrescentou Greenblatt, convencido de que Shakespeare adoraria as transformações malucas que fazem com suas peças hoje em dia, já que era um revisor compulsivo, sempre cortando, inserindo, anotando, modificando seu próprio trabalho e o de outrem.

Era também um grande leitor, disse Shapiro. E era um vulcão de novas palavras, disse Greenblatt: só em Hamlet ele escreveu 600 palavras que nunca tinham sido escritas antes (o que não significa que não tivessem sido ditas). Ele foi o único dramaturgo de seu tempo que conseguiu ganhar dinheiro, a ponto de pagar uma pequena fortuna para ter um brasão de família e de comprar uma casa muito boa em Stratford-upon-Avon, para onde voltou antes de morrer. “Quando voltou, ele estava exaurido”, disse Greenblatt. “Estava vazio.” Tinha apenas 52 anos.

E por que é importante saber se foi ele ou não que escreveu tudo que atribuímos a Shakespeare? Greenblatt explica: “Alguém lhe manda uma carta, assustadoramente poderosa e escrita há 400 anos, e a manda para você. É natural que queira saber quem a escreveu!”

UM DIÁLOGO INTENSO COM JONATHAN FRANZEN

 

O público mais exigente costuma prestar atenção aos intérpretes da sociedade atual que contribuem para deslocar os debates dos lugares comuns que restringem as possibilidades de reflexão a velhos paradigmas ideológicos. O escritor americano Jonathan Franzen é uma dessas raridades, ainda mais instigante pelo fato de mesclar ensaios contundentes com ficção de alta densidade psicológica. Não surpreende que consiga ao mesmo tempo obter sucesso comercial e alcançar alta reputação entre os críticos.
Em uma das noites mais esperadas da Flip-2012, ele acrescentou a essas características a capacidade de dialogar de maneira transparente com alguns dos principais dilemas da produção intelectual contemporânea. Autor de quatro romances e um conjunto de ensaios reunidos em dois livros, ele enfrentou os questionamentos de seu anfitrião na mesa 9 da festa literária, o jornalista e crítico Angel Gurria-Quintana e da plateia.
A primeira pergunta, com uma referência a sua declarada admiração por escritores russos, foi sobre a razão de sua escolha por famílias infelizes como personagens. Franzen observou que, curiosamente, não foi uma criança problemática: “Minha família era infeliz, mas o que é realmente infelicidade?”, questionou. “Tolstoi dizia, com alguma verdade, que se tudo está bem com uma pessoa, por que alguém iria querer ler sobre ela”? – acrescentou, e lembrou que os escritores tendem a se afastar da vida comum e a exagerar em tudo.
Depois de repassar suas críticas ferozes ao governo Bush e seus eleitores, Franzen disse que ficou tão consumido pela raiva em 2004 que acabou desenhando um personagem republicano como personagem do romance Liberdade. Acabou transformando a vida desse personagem em um inferno. “Não que não existam republicanos simpáticos, gentis. Existem”, ironizou, afirmando que, para ele, a política é como óleo e água – não se misturam, você agita e a política sempre acaba por cima de tudo.
Sobre a projeção do autor na obra, afirmou diretamente que não consegue criar um personagem que não seja ele mesmo. Diante da questão de ter que se tornar um outro escritor, ele guardou um longo silêncio antes de responder: “Estava só pensando na águia que vinha todos os dias devorar o fígado de Prometeu. Só que não existe uma águia, sou eu mesmo comendo meu próprio fígado. Falando sobre isso, parece que escrever é uma espécie de terapia”, continuou. “A verdade é que eu não precisaria de terapia se não estivesse tentando escrever um romance”.
Quanto às polêmicas que já provocou, Franzen se deteve no caso provocado por um artigo que publicou em 1996, falando de sua decepção com a cultura literária americana, ao observar que revistas como a Time, que já tiveram James Joyce na capa, agora exibem produtores de obras de qualidade discutível. “Como punição, a Time colocou você na capa como ‘o grande escritor americano”, provocou o mediador.
Franzen comentou que o romance mediano praticamente desapareceu do mercado americano. “Agora existem as superestrelas, as estrelas e os ninguém. E eu era um ninguém quando escrevi isso”, lembrou, dizendo em seguida que agora, estranhamente, está do outro lado – “mas culturalmente me sinto no lado dos ninguém”. Isso começou quando as grandes editoras foram dominadas pelos contadores, acrescentou.
Ele ainda foi questionado pela plateia se já tinha pensado em abandonar a literatura. “Não nos últimos dez dias”, respondeu, corrigindo em seguida: “Na verdade, não nas últimas 72 horas”. Perguntado se, afinal, não escreve ficção para entreter os leitores, ponderou que a expressão entretenimento não tem um sentido negativo em inglês como tem em português. “Então, dizer que o papel do romance é entreter não é negativo. Hoje em dia, quando encontro um romance de que gosto, me permito passar um tempo sozinho e me identifico com o personagem e então tenho oportunidade de olhar para minha própria vida”, completou. Mas seu diálogo intenso com a plateia que lotava a tenda dos autores ainda abrigou uma lamentação: “Agora, sinto dizer, o romance não é mais uma forma dominante na cultura”.

MESA DE IAN McEWAN

07/07/2012 - 15h24

Manipular o leitor é "maior prazer que temos na vida", diz McEwan na Flip

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FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

O debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer Egan, um dos mais aguardados (os ingressos se esgotaram em minutos) da décima Flip, não correspondeu às expectativas
Numa Tenda dos Autores completamente lotada, os romancistas, mediados pelo jornalista Artur Dapieve, comentaram o seu processo criativo e elogiaram-se mutuamente. Provocaram aplausos pouco efusivos e risadas idem.
Antes do debate, como de costume, ambos leram trechos dos livros que lançam agora no Brasil --"Serena" (Companhia das Letras), no caso dele, e "O Torreão" (Intrínseca), no caso dela.
Os melhores momentos da tarde couberam a McEwan. Num deles, ao responder uma questão sobre como desenvolve seus personagens, o autor de "Reparação" contou que estava tão envolvido com neurocirurgias durante a pesquisa para "Sábado" que chegou a enganar duas estudantes de medicina se passando por um médico.
"Fico me perguntando como elas se saíram nas provas", brincou.
O inglês disse que, quando precisa recorrer a pesquisas como embasamento para um romance, é parcimonioso com o uso das informações, revelando que, nesses casos, colhe dez vezes mais informações do que as que aproveita.

Adriano Vizoni/Folhapress
Debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer na Flip neste sábado (7)
Debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer na Flip neste sábado (7)
Ao responder a uma espectadora que perguntara, por escrito, se ele tinha prazer em manipular os leitores (pois ela, a espectadora, havia sentido muita raiva ao se sentir manipulada lendo "Reparação"), McEwan disse: "Sim, esse é principal prazer que temos na vida".
Contou ter sido acusado pelo crítico James Wood de ser manipulador. "Então ele só me acusou de ser um romancista."
Depois comparou o leitor a uma truta, numa modalidade de pescaria que basta ao pescador balançar os dedos na água, atraindo a atenção do peixe para hipnotizá-lo e em seguida capturá-lo.
Noutro "insight", instado a fazer uma apreciação do gênero policial, McEwan disse que "talvez todos os romances sejam romances de espionagem".
"Todos temos a noção de que não podemos revelar tudo, que há informações que não podem ser passadas adiante."
Discreta diante do humor sutil do colega, Jennifer Egan abriu sua intervenção dizendo que estava apaixonada pelo Brasil.
Contou que era fã de McEwan desde o tempo da faculdade. "Fico impressionada como ele continua evoluindo."
Recebeu de volta rasgados elogios do inglês, que disse considerar o conto "Black Box" --escrito por Egan via Twitter no perfil da revista "The New Yorker" no microblog-- "uma das melhores coisas" que ele havia lido nos últimos anos.
A americana revelou que na verdade não se entende bem com as novas tecnologias e que escreveu à mão o conto para o Twitter.
"Tentei usar o Twitter há algum tempo, mas não me entendi, não encontrava uma voz, um hacker começou a usar meu nome."
No fim do debate, provocado pela pergunta de um espectador, McEwan evocou a memória do jornalista e crítico britânico Christopher Hitchens, morto de câncer no ano passado.
"Ele deixou um vazio enorme. Tinha um humor inteligente, sempre com crueldade útil. Foi talvez o melhor orador da nossa geração. Morreu com coragem, sem se queixar. Dias antes de morrer estava finalizando ensaio sobre Chesterton. Mesmo com uma dor terrível, com dificuldade de respirar, sabendo que lhe restariam poucos dias, não deixou de trabalhar."

QUEM É DULCE MARIA CARDOSO?

RETIRADO DO BLOG:

 http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/04/07/a-escrita-da-ruina-de-dulce-maria-cardoso-439398.asp

A escrita da ruína de Dulce Maria Cardoso


Atração da Flip este ano, a portuguesa lança no Brasil o aclamado romance ‘O retorno’, sobre as perdas de uma família que, como a sua, foi obrigada a deixar Angola em 1975



O Rui da infância de Dulce Maria Cardoso teve os dois irmãos assassinados durante a guerra de independência de Angola, os nomes citados entre os desaparecidos que todas as noites a rádio listava antes da novela “Simplesmente Maria”. O Rui da literatura de Dulce Maria Cardoso imaginava se o pai, que ficara em Luanda e do qual não tinha notícias, estaria um dia naquela lista que sua irmã ouvia impacientemente todas as noites, antes de “Simplesmente Maria”, na sala de convívio de um hotel cinco estrelas em Estoril, Portugal. O Rui da literatura foi batizado em homenagem ao Rui da infância da escritora portuguesa, que, depois de viver dos 6 meses aos quase 11 anos em Angola, foi obrigada — ela e meio milhão de moradores das colônias de Portugal — a voltar para uma terra onde praticamente não havia estado. Era 1975, fim da guerra de independência de Angola, e uma nova guerra civil estava por vir. Foi nessa época que, a inventar histórias para fazer a vida mais suportável, Dulce decidiu que um dia seria escritora. 

Seu Rui inventado tem 15 anos e é o narrador de “O retorno”. O romance, celebrado por jornais de Portugal como um dos melhores de 2011, chega ao Brasil no fim deste mês pela Tinta-da-china, editora portuguesa que acaba de aportar por aqui, e que em junho lançará “Os meus sentimentos”, também de Dulce. A autora, que no início de julho participará da décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), sempre soube que um dia escreveria sobre a experiência de “retornada”, mas não queria que seus leitores fossem como “aquelas pessoas que abrandam para verem um acidente e se emocionarem”. Após uma antologia de contos e três romances — o primeiro, “Campo de sangue”, foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras — ela achou as palavras. 

— Costumo dizer que me tornei escritora por causa dos acontecimentos que narro neste livro, mas não queria utilizar essa matéria sem mais. Demorei muito tempo até encontrar uma proposta de reflexão sobre o que ocorreu. E a proposta foi um livro sobre a perda e sobre todas as fases que uma perda tem — conta Dulce, por telefone, de Lisboa. 


“Rui é o imperativo do verbo ruir” 

Rui perde a casa com roseira, a cadela Pirata, as pitangas e o mar quente, as roupas coloridas, os amigos que vão para o Brasil e a África do Sul. E o pai, que não sabe se volta. Rui ganha o crepúsculo sem fim, um mar tão azul porém gelado, um casaco branco e largo para suportar o frio de sangrar os lábios e o estigma de retornado, compartilhado com outros que vivem um tanto amontoados, fazendo filas para comer, num hotel cinco estrelas pago pelo Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais. Ali — “o império estava ali, naquela sala, um império cansado, a precisar de casa e de comida, um império derrotado e humilhado, um império de que ninguém queria saber” — fica à espera de outra vida por mais de um ano, dormindo com a irmã e a mãe e repetindo, para ver se acredita: “um quarto pode ser uma casa e este quarto e esta varanda de onde se vê o mar é a nossa casa”: 

— Quando estava a escrever percebi que Rui é o imperativo do verbo ruir. Esse era o nome certo. Porque o que eu assisti foi o império ruir. Eu assisti ao monstro em seu movimento de queda final. 


Escritora vê seu país sem rumos e cria protagonista adolescente como alguém capaz de redefinir o futuro 

Dulce Maria Cardoso nega que tenha escolhido um personagem masculino para fugir do tom autobiográfico. Sabia que de todo modo se procurariam as semelhanças entre o romance e sua própria história — como acontece mesmo quando não há relação alguma. Além de ter crescido “assombrada” pela história do Rui de sua infância — que reencontrou há pouco tempo, por conta de uma entrevista na televisão —, era para ela um desafio pensar na diferença de gênero, que é mais marcante na adolescência, sobretudo quase 40 anos atrás. 

O narrador adolescente ainda lhe servia ao propósito de pensar na possibilidade de reconstrução do que ruiu. Rui vai buscando palavras para os silêncios a sua volta, como os da doença da mãe e da ausência do pai. Angola é “lá”, Portugal é “cá”, e a política e a guerra que estão por trás de todas as mudanças em sua vida são “isto”. “Desde que isto começou”, repete o narrador. 

— Os países em crise ou em convulsões são como os adolescentes, podem redefinir o que querem para seu futuro. E portanto um país em crise como Portugal foi em 1975, e como infelizmente está a ser outra vez agora, é um país sempre adolescente, porque pode fazer escolhas, haja vontade e sabedoria suficientes, o que neste caso parece não ter havido — afirma Dulce, com uma amargura recorrente em relação à história de Portugal. — Nunca exorcizamos o império. Não pensamos sobre o que fomos, estamos quase sem referências, então dificilmente sabemos do nosso lugar no futuro. 

Brasil como lugar mítico, na vida e no romance 
Dulce passou muito tempo assim, sem saber de seu lugar no futuro. Saiu de Angola na ponte aérea que durou até 11 de novembro de 1975, dia da independência, para viver com os avós de que não tinha memória em Trás-os-Montes, região onde nascera, no Norte de Portugal. Depois viveu dois anos com os pais, a irmã e outros retornados num hotel em Estoril. Não tem como saber se teria se tornado uma escritora fosse outra sua história, mas acredita que não. 

— A realidade foi se tornando insuportável, principalmente porque Trás-os-Montes em 1975 era uma coisa terrível em termos de isolamento. E para mim não foi só perder os amigos, o clima, todos os sabores que eu conhecia. Foi também perder a própria família nuclear — conta. — Eu tornei-me a minha primeira personagem, porque comecei a inventar histórias para meu dia a dia como se estivesse a viver aventuras. Era a única maneira de a realidade me ser suportável. Aprendi a construir personagens sendo eu a primeira, e depois percebi essa coisa maravilhosa de que as histórias iam comigo para todo lado. 

Sem livros em casa, Dulce não sabia como dar forma àquelas histórias. Matriculou-se num curso de datilografia, ao lado de senhoras que queriam ser secretárias, e continuou sem saber. Então passou a frequentar bibliotecas, escolhia os livros mais grossos para não ter que ir e voltar a toda hora, e lendo “de forma caótica” descobriu Dostoiévski e estremeceu com “Madame Bovary”, imaginando se aquele enredo poderia acontecer com sua mãe e sua tia. Só depois de se formar em Direito e trabalhar cinco anos como advogada, porém, ela passou a se dedicar inteiramente à escrita. 

— Sou uma improbabilidade — brinca. 

Bolsas e prêmios aos poucos mudaram as probabilidades. Grande parte de “O retorno” foi escrito com uma bolsa na Alemanha. Quando voltou a Portugal, diz Dulce, o país já estava sob intervenções econômicas, e foi uma coincidência lançar um livro que fala do fim do império português justo no “fim do ciclo do sonho europeu”. Ao falar da descolonização, ela conta uma história que não costuma ser conhecida. Dulce volta e meia recebe mensagens de portugueses que nunca souberam das mais de meio milhão de pessoas que tiveram que sair das colônias de Portugal — de Moçambique, diz ela, houve retornados que já viviam lá havia três gerações. 

Nem lá nem cá, os retornados eram vistos como exploradores pelos angolanos e como portugueses de segunda categoria pelos da metrópole. Alguns apoiavam a independência do “povo oprimido por cinco séculos”, como diz no livro o tio de Rui, outros consideravam os soldados portugueses traidores, mas todos, de forma geral, faziam de si mesmos uma brutal diferenciação com “os pretos”. 

— Se há racismo em Lisboa em 2012, como se pode pensar que em 1975 não havia? Era uma colônia, e portanto havia uma situação desequilibrada de poder. E todos os racismos partem acima de tudo de um grande desequilíbrio. Não era ostensivo como na África do Sul, mas havia um racismo que ainda hoje há, e que talvez seja o mais difícil de combater, que é o racismo de oportunidades — diz Dulce, ressaltando que seu objetivo nunca foi prestar contas, até porque está muito mais preocupada com os racismos e exclusões de hoje do que com os de 1975, com os fins de hoje em Portugal do que com o fim do império. 

Naquele tempo de infância, quando o frio de Portugal e as saudades de casa apertavam, Dulce sonhava que sua família poderia ir para o Brasil. No livro, o país aparece como esse espaço de sonho, que ela realizou ao vir ao Rio na Bienal de 2005. Volta em julho a Paraty, ainda com uma ideia mítica de país à sua frente, de um lugar onde “está tudo ainda a acontecer”, enquanto Portugal se mantém “no canto da Europa, sempre a empurrar o horizonte”. 

— Toda gente achava que o Brasil era uma repetição do que tínhamos perdido, por causa do clima, da maneira de ser... Depois o Brasil veio a ter conosco através das novelas, por um tempo o Brasil tinha uma grande importância, era muito bem visto e popular por aqui. Infelizmente depois, quando começou a imigração brasileira... já não é tanto — observa. 

A Angola, nunca mais voltou: 

— Infelizmente, e isso é uma marca do nosso processo de descolonização, Angola ficou entregue a uma guerra civil terrível, que agora já acabou, mas ficou com um regime que não é confiável... O regime angolano faz com que eu não volte lá.

FLIP AO VIVO



Assistam em tempo real à mesa "EM FAMÍLIA"  com Zuenir Ventura e  Dulce Maria Cardoso!









Estarei fazendo um copilação de notícias na rede para reter a "dor de corno" por não ter ido ao evento!
Regina Karla