sábado, 7 de julho de 2012

MESA DE IAN McEWAN

07/07/2012 - 15h24

Manipular o leitor é "maior prazer que temos na vida", diz McEwan na Flip

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FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

O debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer Egan, um dos mais aguardados (os ingressos se esgotaram em minutos) da décima Flip, não correspondeu às expectativas
Numa Tenda dos Autores completamente lotada, os romancistas, mediados pelo jornalista Artur Dapieve, comentaram o seu processo criativo e elogiaram-se mutuamente. Provocaram aplausos pouco efusivos e risadas idem.
Antes do debate, como de costume, ambos leram trechos dos livros que lançam agora no Brasil --"Serena" (Companhia das Letras), no caso dele, e "O Torreão" (Intrínseca), no caso dela.
Os melhores momentos da tarde couberam a McEwan. Num deles, ao responder uma questão sobre como desenvolve seus personagens, o autor de "Reparação" contou que estava tão envolvido com neurocirurgias durante a pesquisa para "Sábado" que chegou a enganar duas estudantes de medicina se passando por um médico.
"Fico me perguntando como elas se saíram nas provas", brincou.
O inglês disse que, quando precisa recorrer a pesquisas como embasamento para um romance, é parcimonioso com o uso das informações, revelando que, nesses casos, colhe dez vezes mais informações do que as que aproveita.

Adriano Vizoni/Folhapress
Debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer na Flip neste sábado (7)
Debate entre o inglês Ian McEwan e a americana Jennifer na Flip neste sábado (7)
Ao responder a uma espectadora que perguntara, por escrito, se ele tinha prazer em manipular os leitores (pois ela, a espectadora, havia sentido muita raiva ao se sentir manipulada lendo "Reparação"), McEwan disse: "Sim, esse é principal prazer que temos na vida".
Contou ter sido acusado pelo crítico James Wood de ser manipulador. "Então ele só me acusou de ser um romancista."
Depois comparou o leitor a uma truta, numa modalidade de pescaria que basta ao pescador balançar os dedos na água, atraindo a atenção do peixe para hipnotizá-lo e em seguida capturá-lo.
Noutro "insight", instado a fazer uma apreciação do gênero policial, McEwan disse que "talvez todos os romances sejam romances de espionagem".
"Todos temos a noção de que não podemos revelar tudo, que há informações que não podem ser passadas adiante."
Discreta diante do humor sutil do colega, Jennifer Egan abriu sua intervenção dizendo que estava apaixonada pelo Brasil.
Contou que era fã de McEwan desde o tempo da faculdade. "Fico impressionada como ele continua evoluindo."
Recebeu de volta rasgados elogios do inglês, que disse considerar o conto "Black Box" --escrito por Egan via Twitter no perfil da revista "The New Yorker" no microblog-- "uma das melhores coisas" que ele havia lido nos últimos anos.
A americana revelou que na verdade não se entende bem com as novas tecnologias e que escreveu à mão o conto para o Twitter.
"Tentei usar o Twitter há algum tempo, mas não me entendi, não encontrava uma voz, um hacker começou a usar meu nome."
No fim do debate, provocado pela pergunta de um espectador, McEwan evocou a memória do jornalista e crítico britânico Christopher Hitchens, morto de câncer no ano passado.
"Ele deixou um vazio enorme. Tinha um humor inteligente, sempre com crueldade útil. Foi talvez o melhor orador da nossa geração. Morreu com coragem, sem se queixar. Dias antes de morrer estava finalizando ensaio sobre Chesterton. Mesmo com uma dor terrível, com dificuldade de respirar, sabendo que lhe restariam poucos dias, não deixou de trabalhar."

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