Texto de Sergio Rodrigues
Retirado do site: http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/vida-literaria/mcewan-e-egan-viva-a-manipulacao-do-leitor/

McEwan e Egan: viva a manipulação do leitor!
O fato de ambos serem escritores profundamente “literários” que
recentemente incursionaram pelo gênero do romance de espionagem
foi apenas um dos muitos pontos de contato entre o inglês Ian McEwan
e a americana Jennifer Egan na mesa que se encerrou agora há pouco.
O escritor e jornalista Arthur Dapieve, mediador de uma conversa fluida
e variada à qual não faltaram elogios mútuos, talvez tenha arriscado um
pouco ao chamar os convidados de “dois dos maiores escritores de língua
inglesa da atualidade”. Se este é um título que McEwan carrega com
enorme tranquilidade, Egan, mesmo com o talento que desfilou com
clareza quase obscena no excelente “A visita cruel do tempo”,
premiado com o Pulitzer,
ainda parece precisar de mais estrada para confirmar o superlativo.
recentemente incursionaram pelo gênero do romance de espionagem
foi apenas um dos muitos pontos de contato entre o inglês Ian McEwan
e a americana Jennifer Egan na mesa que se encerrou agora há pouco.
O escritor e jornalista Arthur Dapieve, mediador de uma conversa fluida
e variada à qual não faltaram elogios mútuos, talvez tenha arriscado um
pouco ao chamar os convidados de “dois dos maiores escritores de língua
inglesa da atualidade”. Se este é um título que McEwan carrega com
enorme tranquilidade, Egan, mesmo com o talento que desfilou com
clareza quase obscena no excelente “A visita cruel do tempo”,
premiado com o Pulitzer,
ainda parece precisar de mais estrada para confirmar o superlativo.
O romance que Ian McEwan está lançando em primeira mão na Flip, “Serena”,
é uma história de espionagem que, como todas do gênero, tem reviravoltas surpreendentes – inclusive uma, a mais decisiva, relativa à identidade do
narrador, que o leitor descobre na última linha. Depois de, surpreendentemente,
entregar essa surpresa de bandeja no palco da Flip logo no início da conversa,
o escritor disse esperar ver surgir no Brasil, “agora que o país está virando uma superpotência”, uma literatura do gênero, com seus componentes de paranoia e adivinhação dos desígnios do inimigo:
é uma história de espionagem que, como todas do gênero, tem reviravoltas surpreendentes – inclusive uma, a mais decisiva, relativa à identidade do
narrador, que o leitor descobre na última linha. Depois de, surpreendentemente,
entregar essa surpresa de bandeja no palco da Flip logo no início da conversa,
o escritor disse esperar ver surgir no Brasil, “agora que o país está virando uma superpotência”, uma literatura do gênero, com seus componentes de paranoia e adivinhação dos desígnios do inimigo:
“Talvez todos os romances sejam romances de espionagem,
num certo sentido”, disse. “O que contamos, o que deixamos de fora,
quem é a pessoa que conta…
Todo romance sonega informação, faz parte da cola que o mantém coeso.
Talvez um dia a gente descubra que romances de espionagem não são um
gênero, mas mainstream.”
num certo sentido”, disse. “O que contamos, o que deixamos de fora,
quem é a pessoa que conta…
Todo romance sonega informação, faz parte da cola que o mantém coeso.
Talvez um dia a gente descubra que romances de espionagem não são um
gênero, mas mainstream.”
Por coincidência, também é uma narrativa de espionagem, ainda
que pouco convencional, o texto de Jennifer Egan cuja leitura McEwan
recomendou efusivamente à plateia como “uma das melhores coisas
que leio em anos”: a novela Black box, toda escrita sob a forma de
tweets, publicada pela revista
“New Yorker”.
que pouco convencional, o texto de Jennifer Egan cuja leitura McEwan
recomendou efusivamente à plateia como “uma das melhores coisas
que leio em anos”: a novela Black box, toda escrita sob a forma de
tweets, publicada pela revista
“New Yorker”.
Se a analogia com o mundo da espionagem não serve para qualquer
literatura, certamente serve para a de McEwan e Egan, escritores que
obviamente investem incontáveis horas de voo imaginativo na construção
de tramas surpreendentes, que aqui e ali puxam o tapete do leitor. Nesse
ponto, a arte de ambos é muito diferente daquela de Teju Cole e Paloma
Vidal, que na mesa de ontem manifestaram desprezo pela dimensão
da trama. Acusado pelo crítico americano James Wood, num ensaio do
ano passado, de manipular o leitor, McEwan foi mordaz:
literatura, certamente serve para a de McEwan e Egan, escritores que
obviamente investem incontáveis horas de voo imaginativo na construção
de tramas surpreendentes, que aqui e ali puxam o tapete do leitor. Nesse
ponto, a arte de ambos é muito diferente daquela de Teju Cole e Paloma
Vidal, que na mesa de ontem manifestaram desprezo pela dimensão
da trama. Acusado pelo crítico americano James Wood, num ensaio do
ano passado, de manipular o leitor, McEwan foi mordaz:
“Manipular o leitor é o prazer principal. Não se trata de sadismo. Ao me
acusar de manipulador, o que James Wood estava fazendo era me
acusar de ser romancista.” Jennifer Egan concordou: “A manipulação
pela manipulação é um saco, a questão é que propósito ela tem.
Vale a pena?Quando um romancista diz que estamos em Londres no
século 18, é óbvio que não estamos, isso é uma forma de manipulação.
Que pode sermaravilhosa, se a história valer a pena”.
acusar de manipulador, o que James Wood estava fazendo era me
acusar de ser romancista.” Jennifer Egan concordou: “A manipulação
pela manipulação é um saco, a questão é que propósito ela tem.
Vale a pena?Quando um romancista diz que estamos em Londres no
século 18, é óbvio que não estamos, isso é uma forma de manipulação.
Que pode sermaravilhosa, se a história valer a pena”.
Os dois concordaram também sobre o futuro do romance. “Se nós,
romancistas, trabalharmos direito, ele não vai acabar”, opinou Egan.
“Dizem que os videogames ameaçam os romances. Eu gosto de games,
mas o que mais me interessa é como eles podem ser incorporados
a um romance.” McEwan optou pela abordagem histórica: “O romance
é uma ferramenta, uma tecnologia que construímos ao longo de séculos.
Claro que nós nos apoiamos nos ombros de gigantes: usamos sem
pensar, com naturalidade, o discurso indireto livre de Jane Austen
e Flaubert. Seria impossível criar tudo isso agora. É por isso que o
romance não morre.”
romancistas, trabalharmos direito, ele não vai acabar”, opinou Egan.
“Dizem que os videogames ameaçam os romances. Eu gosto de games,
mas o que mais me interessa é como eles podem ser incorporados
a um romance.” McEwan optou pela abordagem histórica: “O romance
é uma ferramenta, uma tecnologia que construímos ao longo de séculos.
Claro que nós nos apoiamos nos ombros de gigantes: usamos sem
pensar, com naturalidade, o discurso indireto livre de Jane Austen
e Flaubert. Seria impossível criar tudo isso agora. É por isso que o
romance não morre.”
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