quarta-feira, 29 de setembro de 2010

TEXTO DE RAQUEL DE QUEIROZ

Votar

Publicado na Revista O Cruzeiro, em 11 de janeiro de 1947

Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama governo democrático, ou governo do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVERNO.
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.
Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é grave a escolha desses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bolso.
E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aqueles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aqueles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos.
Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Eles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
Não preciso explicar muito este capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.
Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as forças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias.
E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fez um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado.
Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fossem.
Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.
Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva.
Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o governo, quando é ruim, ele é que nos dá a surra, ele é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da boca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.
E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto.
Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem medo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à força, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno.
LEMBREM-SE DO QUE NOS ACONTECEU EM 2008! sEM DÚVIDA É UM MOMENTO DECISIVO...
BEIJOS,
REGINA KARLA




terça-feira, 28 de setembro de 2010

EMOÇÃO

Depois da emoção da presença dos alunos de E.Especial Rotary na Mostra de dança, somente a emoção da poesia do professor e poeta Ronaldo Lima Lins, publicada aqui com seu consentimento e o comentário da também professora e poeta Fátima Miguez.
Presentes para nós neste dia chuvoso.
Aproveitamos para rcomendar a leitura do livro do Ronaldo!
Mais do que areia menos do que a pedra,

"Poema", do livro "Mais do que a areia menos do que a pedra", seleciono, para enfeitar o dia de vocês, texto que coloca à nu a forma de composição poética e suas possibilidades no ato da leitura. Leiam, muito bom!!! Tenham um dia inspirado!! Um abraço,
Fátima Miguez


POEMA

Um poema não diz.
Caminha entre o dito
e o não-dito.

Faz da sombra, claridade;
da claridade, trevas.
É - e não é - uma forma
de afirmar.

Um poema sai da palavra
e se veste,
como uma erva brota do asfalto:
para ficar,
certa de sua superioridade.

Por isso,
percorrê-lo, é descobrir a dor,
atravessar a revelação
e parar, no infinito,
sem entender.

Um poema tem pele, ossos.
Não tem rosto.
Voa como os pássaros não voam,
canta como os pássaros não cantam.
Para ouvi-lo, é preciso afinação.

Nada é mais moderno
do que um poema moderno.
Nada é mais clássico
do que um poema clássico.
E nada é mais - e menos-
do que um poema
clássico ou moderno.
Porque um poema não se mede
em quantidades.

O seu tamanho
é o do que pode e não pode,
do que deseja e não deseja
do que vê e não vê,
de qualidades que não se confessam
e cortam o ritmo da respiração.

Um trovador
que passava numa aldeia,
a quem perguntavam
ser contra ou a favor,
respondeu:
sou e não sou contra;
sou e não sou a favor.
Enforcaram-no em praça pública.
Mas não lhe enforcaram os versos.
Sobreviveu.

Um poema de amor
não é de amor.
É do amor pelo amor
e por mais alguma coisa.

Um poema de guerra
não louva o brilho, o heroísmo,
a vitória, necessariamente.
Louva a conquista
da palavra sobre a vontade de calar-se.

Um poema é um poema
quando, assediada,
a imaginação proclama
o que não possui,
crava e não crava estacas
no chão da realidade.

Um poema
que passou perto de mim
e seguiu despercebido
povoou meus pensamentos.
Ainda busco, com ele,
compreender.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sala de Leitura e Mostra de dança

A E.Especial Rotary poderia dançar qualquer coisa, mas escolheu dançar com livros!
Curtam com o recadinho da professora Silvia Maria Maciel Sales, da 4ª CRE.

Esse foi mais um sonho da Sala de Leitura da Escola Especial Rotary Club feito com muito respeito, seriedade, dedicação e amor. Por isso brilhamos. Agora peço que apreciem, se emocionem e promovam.
Um grande beijinho com carinho...


http://www.youtube.com/watch?v=GrVI06aYj44

sábado, 25 de setembro de 2010

Novos cursos no Estação das Letras

Dica: Novos cursos começando em outubro no Estação das Letras
Lembrando que os professores da rede têm 50% de desconto.
www.estacaodasletras.com.br

NÃO SOMOS DONOS DA TEIA DA VIDA

Continuando no clima reflexivo...

"Meu avô costumava dizer que tudo está interligado entre si e que nada escapa da trama da vida. Ele costumava me levar para uma abertura da floresta e deitava-se sob o céu e apontava para os pássaros em pleno vôo e nos dizia que eles escreviam uma mensagem para nós. “Nenhum pássaro voa em vão. Eles trazem sempre uma mensagem do lugar onde todos nos encontraremos”, dizia ele num tom de simplicidade, a simplicidade dos sábios. Outras vezes nos colocava em contato com as estrelas e nos contava a origem delas, suas histórias. Fazia isso apontando para elas como um maestro que comanda uma orquestra.
Confesso que não entendia direito o que ele queria nos dizer, mas o acompanhava para todos os lugares só para ouvir a poesia presente em sua maneira simples de nos falar da vida.
Numa certa ocasião ele disse que cada coisa criada está em sintonia com o criador e que cada ser da natureza, inclusive o homem, precisa compreender que seu lugar na natureza não é ser o senhor, mas um parceiro, alguém que tem a missão de manter o mundo equilibrado, em perfeita harmonia para que o mundo nunca despenque de seu lugar"... Leia mais em http://www.danielmunduruku.com.br/

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

COMEMORANDO A PRIMAVERA

Acredito que há poesia em tudo nesta vida, basta ter olhos para vê-la. Veja a história do homem que lendo o jornal pela manhã viu uma foto e a transformou em música.
Puro deleite!
FELIZ PRIMAVERA!
Beijos,
Regina Karla

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

COMPROMISSO COM A PRIMAVERA


Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se afadiga? Eclesiastes 3:9

Em uma radiosa manhã primaveril o filósofo George Santayana interrompeu sua palestra no meio de uma frase. “Acho que essa frase jamais será terminada”, disse ele. “Tenho um compromisso com a primavera.” Ele juntou seus papéis, saiu do auditório e foi para uma região rural.

Santayana era um indivíduo excêntrico em muitos aspectos, e não seria aconselhável seguir seu exemplo em tudo. Mas ele nos deixou uma lição sobre o equilíbrio que deve haver entre trabalho e lazer.

Muitos de nós somos escravos do trabalho, e nos afadigamos durante todas as horas úteis do dia. Não temos tempo para relaxar e observar as coisas belas e simples da vida.

Deus certamente levou em conta essa tendência humana ao nos criar, e por isso nos deixou um exemplo a ser seguido: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera” (Gn 2:2, 3).

Trabalhar arduamente é bom, pois nos dá um senso de realização e utilidade e nos livra do tédio. Mas também pode nos manter ocupados demais para perceber que talvez estejamos correndo atrás do vento.

Nosso compromisso com a primavera pode não ser igual ao do filósofo Santayana, entre árvores, grama e flores. Mas seja onde for, é melhor não adiar esse compromisso até que seja tarde demais.

Guilherme vivia com a esposa Elisa no sopé de uma montanha. De sua casa se descortinava um panorama esplendoroso, com um lago no meio do vale, lá embaixo. Um dia Guilherme morreu em seu escritório, onde estava trabalhando até tarde, como era seu costume.

A viúva, Elisa, se conteve durante o funeral e mesmo durante a venda de suas muitas posses. Mas perdeu totalmente o controle quando o leiloeiro anunciou o leilão de um par de cadeiras de balanço. “Uma delas é novinha em folha”, disse ele com entusiasmo.

Guilherme havia comprado as cadeiras para ele e Elisa, no verão em que havia aumentado o alpendre da casa com sua bela vista para o vale. Mas não tirou tempo para usar a sua.

Ele perdeu o seu compromisso com a primavera.

P.S. A primavera começa hoje.


Scheffel, R.M. 2010. Com a Eternidade no Coração. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 1ª edição, pág. 269.

LIETRATURA, INTERNET E LIBERDADE

DEBATE: 27 de setembro, às 9 horas, no Auditório E III Faculdade de Letras UFRJ
com a participação de: Yakuy Tupinambá, Eleonora Ziller, Godofredo de Oliveira Neto e Andrea Lombardi (moderador) sobre o tema:

LITERATURA, INTERNET E LIBERDADE
Apoio: Instituto Italiano de Cultura


Yakuy Tupinambá, representante indigena, organizadora da rede indiosonline, e os docentes de Literatura Godofredo, Eleonora e Andrea serão confrontados com um tema particularmente atual. Por um lado os efeitos positivos da democratização do acesso à informação via novos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, a limitação da leitura a uma coleta de "dados" evidentemente nunca ojetivos.

Esse debate perpassa nossa experiência como docentes e não tem, evidentemente, uma resposta unívoca. Um debate interessante, dada a presença de nosso colega Godofredo, representante da Comissão para a Língua portuguesa e Yakuy, representante indigena e aluna de graduação da Faculdade de Direito da Bahia, poderá trazer elementos interessantes.


(para qualquer informação: escrever para Andrea Lombardi lombardi.andrea@gmail.com )

sábado, 4 de setembro de 2010

IV CONCURSO LITERATURA PARA TODOS

IV Concurso Literatura para Todos
O Ministério da Educação lançou nessa sexta-feira, 27, o
4º Concurso Literatura para Todos, por meio de Edital N.º5/2010/SECAD/MEC, publicado no Diário Oficial da União. A iniciativa é uma das estratégias da Política de Leitura do MEC com o objetivo de democratizar o acesso à leitura, constituir um acervo bibliográfico literário específico para jovens, adultos e idosos recém alfabetizados e criar uma comunidade de leitores - os chamados neoleitores.

Mais informações também podem ser obtidas em:

 www.mec.gov.br/secad/ivconcursoliteraturaparatodos