terça-feira, 28 de setembro de 2010

EMOÇÃO

Depois da emoção da presença dos alunos de E.Especial Rotary na Mostra de dança, somente a emoção da poesia do professor e poeta Ronaldo Lima Lins, publicada aqui com seu consentimento e o comentário da também professora e poeta Fátima Miguez.
Presentes para nós neste dia chuvoso.
Aproveitamos para rcomendar a leitura do livro do Ronaldo!
Mais do que areia menos do que a pedra,

"Poema", do livro "Mais do que a areia menos do que a pedra", seleciono, para enfeitar o dia de vocês, texto que coloca à nu a forma de composição poética e suas possibilidades no ato da leitura. Leiam, muito bom!!! Tenham um dia inspirado!! Um abraço,
Fátima Miguez


POEMA

Um poema não diz.
Caminha entre o dito
e o não-dito.

Faz da sombra, claridade;
da claridade, trevas.
É - e não é - uma forma
de afirmar.

Um poema sai da palavra
e se veste,
como uma erva brota do asfalto:
para ficar,
certa de sua superioridade.

Por isso,
percorrê-lo, é descobrir a dor,
atravessar a revelação
e parar, no infinito,
sem entender.

Um poema tem pele, ossos.
Não tem rosto.
Voa como os pássaros não voam,
canta como os pássaros não cantam.
Para ouvi-lo, é preciso afinação.

Nada é mais moderno
do que um poema moderno.
Nada é mais clássico
do que um poema clássico.
E nada é mais - e menos-
do que um poema
clássico ou moderno.
Porque um poema não se mede
em quantidades.

O seu tamanho
é o do que pode e não pode,
do que deseja e não deseja
do que vê e não vê,
de qualidades que não se confessam
e cortam o ritmo da respiração.

Um trovador
que passava numa aldeia,
a quem perguntavam
ser contra ou a favor,
respondeu:
sou e não sou contra;
sou e não sou a favor.
Enforcaram-no em praça pública.
Mas não lhe enforcaram os versos.
Sobreviveu.

Um poema de amor
não é de amor.
É do amor pelo amor
e por mais alguma coisa.

Um poema de guerra
não louva o brilho, o heroísmo,
a vitória, necessariamente.
Louva a conquista
da palavra sobre a vontade de calar-se.

Um poema é um poema
quando, assediada,
a imaginação proclama
o que não possui,
crava e não crava estacas
no chão da realidade.

Um poema
que passou perto de mim
e seguiu despercebido
povoou meus pensamentos.
Ainda busco, com ele,
compreender.

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