segunda-feira, 29 de março de 2010

UM NOVO OLHAR SOBRE A NOVA ALFABETIZAÇÃO DO INSTITUTO ALFA E BETO


Caríssimos e Caríssimas,

Desculpem utilizar esse nosso espaço para fazer uma denúncia, mas conto com esse valoroso grupo para me ajudar a divulgar o que vem acontecendo com as escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.


Finalmente, a SME/RJ está utilizando as verbas a ela destinada desde sempre. A Claudia Costin, como boa administradora que é, e já tendo tido experiência em outros cargos governamentais, inclusive na esfera federal, sabe direitinho onde o dinheiro está e tem captado literalmente tudo o que é possível captar. Mas...


Apesar de todos os avanços no campo administrativo que estão sendo realizados nessa gestão, a orientação pedagógica está uma verdadeira barafunda!


Dentre as inúmeras propostas de "salvação" que a SME/RJ anda apresentando aos professores, de maneira absolutamente arbitrária, está uma cartilha, baseada no método fônico ou fonético - muito utilizado nos anos 50/60 e que é condenado por todos os estudiosos do assunto, desde a década de 80.


As cartilhas chegaram para serem distribuídas para as escolas cujos alunos têm dificuldade na aprendizagem da leitura. É um projeto caro, encomendado a um Instituto chamado Alfa e Beto. Chama-se "Aprender a ler" e tem um livro suplementar, com pseudo histórias para os alunos.


Com essa cartilha, pretende-se alfabetizar, finalmente, as crianças... a justificativa é que, com os métodos anteriores, as crianças não obtiveram sucesso. Posso afirmar que a metodologia do ensino de alfabetização que era orientada aos professores nunca chegou a ser implantada efetivamente no nosso município - por motivos políticos.


Desde 2002, ainda na gestão do Prefeito César Maia, as capacitações em serviço para os professores da Rede Pública Municipal foram suspensas.


As atualizações para os professores foram retomadas no final de 2009, já na gestão do Eduardo Paes. Esse vácuo de 7 anos para o magistério foi fatal. Haja vista a pesquisa recentemente publicada, em que os professores culpam as famílias dos alunos pela não aprendizagem dos mesmos. (O pior é que a SME/RJ também acredita nisso uma vez que lançou uma "cartilha" para as mães - e somente elas - aprenderem a acompanhar os filhos em seus estudos. Isso é, no mínimo, grotesco... um dos conselhos dado às mães, é que tenham um local adequado em suas casas, para as crianças estudarem. Um local silencioso, com boa iluminação, boa ventilação e confortável..
.) Têm ideia de qual planeta quem escreveu isso vive?

Retrocedemos 20 anos no pensamento pedagógico dessa Rede.


Algumas outras propostas de salvação do ensino na Rede Pública, são, ainda, a volta da 2ª época e dos deveres de casa...


Voltando à cartilha de alfabetização, envio um dos textos para vocês verem, com algumas observações iniciais.


Minha chinela amarela


"Olá, eu sou o Charles.

Eis a minha chinela.
Minha chinela é amarela.
Eu chamo minha chinela de Chaninha!

Chaninha vive no armário

De manhã, Chaninha sai do armário e vem para mim.
E Chaninha vem me ver, cheia de charme!

Eu saio ao sol, eu e a minha chinela...

Eu saio na rua...
Eu e a minha chinela.
Eu e a minha Chaninha! Lá vamos nós!

Às vezes, eu suo muito.

Eu suo na Chaninha.
Aí, ela cheira mal!
Uuuuu! Ela cheira a chulé!

Se dá chulé na Chaninha, mamãe leva e lava.

Mamãe lavou, lavou e a Chaninha furou.

Hum, a chinela é cheirosa afinal!

Chaninha é velha.
Mesmo assim ela é maravilhosa!
"

1 - Qualquer professor de Língua Portuguesa pode atestar que isso acima é quase um não-texto, porque possui débeis elementos básicos de coesão, e baixíssimo nível de coerência. São quase frases soltas;

2 - costumamos dizer que esse tipo de não-texto imbeciliza os alunos;
3 - é também inadequado para a faixa etária a que está endereçado;
4 - não utilizamos chinelas no Rio de Janeiro;
5 - Charles é um nome, ah digamos... não brasileiro;
6 - e, Chaninha, na minha terra é... vocês sabem o que significa.

Sou profª da Rede Municipal há 32 anos e nunca vivenciei nada semelhante. Nunca a SME foi tão retrógrada, com atitudes tão conservadoras e tão inconsequente em seus atos.


A Claudia Costin tem uma mídia hiper forte com ela, que é excelente administradora, mas não entende bulhufas de Educação e nem a equipe que montou para assessorá-la. E os professores ah, digamos, mais conscientes, estão sem espaço pra contar suas histórias. Só aparece o que dá cartaz ao governo, e que está apenas na superfície.


Pra terminar, outra "história" tirada da cartilha:


Zé e Zuza


" Zé amola seu mano Zuza.

- Ei, Zuza zonzo!
- Não amola, Zé!

Uma manhã, uma luz iluminou Zuza.

- O Zé não me amola mais!

Zuza assou uma massa de sal numa noz.

- Uma noz, mano Zuza! Eu amo noz! Ulalá!

E zás!

Ai, ai, ai!
Noz com sal?
Zuza amolou o Zé, ou não?

O Zuza não amolou.

- Amo noz! amo sal! Noz e sal, uau! Amei!

Ué, nem o sal na noz amola o Zé!

- Ô, mano Zé lelé!
- Ê, miolo mole!"

Parece sacanagem? E é!!! Sacanagem com os meninos e meninas das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.


Obrigada pela atenção

Denise Vilardo

4 comentários:

  1. Este caso está sendo conhecido como a chaninha suada...
    SEM COMENTÁRIOS!
    rEGINA kARLA

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  2. Temos este caso e a insaftisfação das SLs, mas sabemos que muitos pontos precisavam de mudança. Episódios isolados não chegam a comprometer uma ação global. Precisamos acreditar na nova gestão, até porque a antiga estava pra lá de ultrapassada e cheia de vícios. Muitos gostam de se acomodar e poucos gostam de sair da zona de conforto.Viver de passado não leva ninguém pra frente. Precisamos encarar as mudanças. Apontar os erros é muito fácil,encontrar caminhos exige mais, muito mais.

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  3. Pois é... Para mostrar a cara e assumir o que diz e faz é preciso coragem e ética. Os covardes se escondem atrás do anominato.

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  4. Zona de conforto para quem, anônimo?Mesmo assim vou dar bom dia para cavalo. Ninguém vive no passado,não! Apenas estamos vendo que estas pessoas que estão no comando NÃO ENTENDEM NADA de SALA DE LEITURA! Dar canetada é mole! Chegue mais perto e verá que todas as maravilhas que estão no twitter,só existem lá. Os professores de SL. continuam fazendo seu trabalho. Faça crítica,mas coloque seu nome,quem sabe veremos alguém que está em sua zona de conforto,fora de escola!!!

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