segunda-feira, 1 de março de 2010

MORRE JOSÉ MINDLIN

O bibliófilo José Mindlin morreu na manhã deste domingo, em São Paulo. Ele tinha 95 anos e estava internado há cerca de um mês. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos.

Mindlin foi jornalista, advogado e empresário. Mas, ao longo da sua vida, dedicou-se com mais carinho ao que mais gostava: livros.

Ele criou o maior e mais importante acervo particular de livros do Brasil. A sua biblioteca com mais de 38 mil títulos, 60 mil livros e documentos, entre eles obras raras, foi doada à Universidade de São Paulo.






LOUCURA MANSA
José Mindlin

Para mim é difícil falar simplesmente de gosto pelos livros, porque em matéria de livros meu caso é muito mais grave: é um amor que vem desde a infância, que me tem acompanhado a vida inteira, e ainda acima disto, é incurável.  Não se trata por isso de um interesse periférico, e o prazer que me tem proporcionado em todo este longo percurso, faz com que tenha procurado, permanentemente, desejar que muito mais pessoas possam também desfrutá-lo. Daí eu aproveitar qualquer oportunidade que me surja (e esta espero que seja uma delas) para inocular o vírus do amor ao livro em todos os possíveis leitores que já não o tenham adquirido anteriormente.
        O prazer que o livro pode trazer tem múltilos aspectos.  O primeiro, fundamental, que é obvio, mas muita gente não se dá conta disso, é o da leitura, através da qual se estabelece um contato com o mundo exterior que abre, para o leitor, horizontes ilimitados.  O livro informa, distrai, enriquece o espírito, põe a imaginação em movimento, provoca tanto reflexão como emoção, é, enfim um grande companheiro. Companheiro ideal, aliás, pois está sempre à disposição, não cria problemas, não se ofende quando é esquecido, e se deixa retomar sem histórias, a qualquer hora do dia ou da noite que o leitor deseja.
        Brincadeira à parte creio que a utilidade do livro é indiscutível, pois dá permanência ao pensamento humano.  Sem o livro, não teríamos chegado a conhecer a obra de filósofos, dramaturgos e cientistas da Antiguidade e da Idade média. A invenção dos tipos móveis por Gutenberg no século XV, permitindo surgimento do livro impresso, foi uma revolução comparável, e diria mesmo até superior à que resultou da informática, pelo menos até agora.
        De lá para cá, foram se formando as grandes bibliotecas, e aí surge o segundo prazer: possuir o livro, que, além do conteúdo, também pode ser apreciado como objeto de arte, pela ilustração, diagramação, papel, tipografia, ou encadernação. O primeiro livro que se adquire provoca a busca de outros e, em pouco tempo, começa a formar-se a biblioteca, em que por sua vez se formam as mais variadas coleções: autores, assuntos, edições, raridades, manuscritos, e muitos et ceteras.
        Há o prazer intelectual da leitura, e o prazer físico do contato com o livro.  Falo sempre de loucura mansa, e posso assegurar que não é só mansa: é também prazerosa. Sugiro a quem ainda não a tenha que procure contraí-la.

Retirado do livro: A Paixão pelos Livros – autores diversos – ED. Casa da Palavra

Um comentário:

  1. Acabo de assistir entrevista de Mindlin na TV Cultura! Perda imensa para nós!

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