domingo, 11 de julho de 2010

Um pouco de poesia

Em tempos de tanta correria, ausência de percepção do outro e de si mesmo, deixamos aqui um pouco da poesia de Vinicius de Moraes, nosso "poetinha", retirada do livro "Sentimento do sublime". A data de 9 de julho marca mais um ano de sua ausência, mas eternizado em seus versos, por isso duradouro.

O BOM-PASTOR
Vinicius de Moraes

Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas
Com riscos de andorinhas pelo céu.
Amo ir solitário pelos caminhos
Olhando a tarde parada no tempo
Parada no céu como um pássaro em voo
E que vem de asas largas se abatendo.
Amo desvendar a vaga penumbra que desce
Amo sentir o ar sem movimento, a luz sem vida
Tudo interiorizado, tudo paralisado na oração calma...

Amo andar nessas tardes...
Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
Como um raio de luz.
Cresço, projeto-me ao infinito, agitando
Para consolar as árvores angustiadas
E acalmar os pinheiros moribundos.
Desço aos vales como uma sombra de montanha
Buscando poesia nos rios parados.
Sou como o bom-pastor da natureza
Que recolhe a alma do seu rebanho
No agasalho da sua alma...

E amo voltar
Quando tudo não é mais que uma saudade
Do momento suspenso que foi...
Amo voltar quando a noite palpita
Nas primeiras estrelas claras...
Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas
Trazendo cheiros agrestes de selva...
E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite
Amo sonhar...

Um comentário:

  1. Saudade deste grande poetinha! " Se o amo é fantasia,eu me encontro ultimamente em pleno carnaval!

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