sábado, 31 de julho de 2010

AINDA O FIM DO LEIA BRASIL

Compartilhamos o LUTO e a TRISTEZA
Ao ler este texto de Mª Helena, Ezequiel escreveu o dele.

Motivo de Tristeza

Enquanto o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias acontece no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, o LEIA Brasil – seu parceiro de tantos anos e de tanta história – fecha suas portas!
No meio de tantas alegrias, um momento de encontro dos melhores contadores de histórias do Brasil e do Mundo, o motivo de tristeza: um dos mais competentes programas de incentivo à Leitura desse país, se acaba! É pelo menos um contrassenso!
Motivos? Não os conheço. Só sei que nem todos foram convidados para o banquete.
Contar a história do Leia, é desnecessário, pois, quem viveu no mundo da Leitura nos últimos 20 anos, viu, conheceu e gostou...sempre.
Ficam as doces memórias, os rostinhos felizes das crianças, a emoção da chegada da biblioteca volante às escolas, a imagem do caminhão nas estradas de Sana – na Bacia de Campos, os professores descobrindo-se leitores apaixonados e os tantos contadores de histórias que o Leia formou em todo esse país.
Devemos trabalhar o desapego nas nossas vidas, mas as lindas memórias devem ser guardadas para sempre, no fundo do nosso coração.
Quem quiser se despedir do Leia Brasil acesse o site www.leiabrasil.org.br e ouça, com os olhos cheios de lágrimas como os meus, o Soneto da Despedida, de Vinícius de Moraes.
Que o Simpósio seja um sucesso, mas, que em algum momento dele possamos nos lembrar do nosso Leia do coração, principalmente aqueles que deram seu sangue para fazer dele o mais completo Programa de Leitura brasileiro de todos os tempos.

Maria Helena Ribeiro*
*Mª Helena Ribeiro dirigiu o Leia Brasil e as Casas da Terceira Idade no governo Cesar Maia.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

EZEQUIEL THEODORO DA SILVA FALA SOBRE O FIM DO LEIA BRASIL

QUERIDAS E QUERIDOS COMPANHEIROS DE SALA DE LEITURA

Acabo de receber este texto da parte de Anna Maria Rodrigues.
Mais uma vez estou, como disse o próprio Ezequiel, "de luto".

Meu primeiro LUTO veio com a determinação do fim das Salas de Leitura Polo na rede municipal do Rio. Mas de luto, lutamos, juntos e conseguimos a sua manutenção, embora o projeto SALA DE LEITURA tenha sido severamente atingido na sua estrutura e organização. E isso, numa gestão que propõe um projeto "maior" de educação de codinome Rio, uma cidade de leitores.
Não me admira nossa "posição" no ranking mundial de desenvolvimento. Um país que quer crescer, progredir, tem que ter boa Educação. E Educação de qualidade só é possível através da LEITURA. O resto é balela. Como sempre diz Ziraldo, "Ler é mais importante do que estudar". Vimos isso no Salão do Livro, com a história apresentada pela Coreia.
Mas "eles", os mandatários dos desgovernos a que estamos submetidos, são competentíssimos mesmo!
LER É PERIGOSO! Ler esclarece, arregimenta para a resistência, incentiva a LUTA pelos ideais e pela ética. LER forma, informa, aponta para as deformidades da sociedade. LER TRANSFORMA.

Melhor que eu, Ezequiel, uma das maiores autoridades em leitura deste país, registra a indignação e, ainda, o espanto diante dessas e de outras coisas.
Com a palavra Ezequiel Theodoro da Silva:

Soube, hoje, do encerramento das atividades do LEIA BRASIL. Não posso deixar de vir a público para expressar a minha imensa tristeza diante deste acontecimento. Ao mesmo tempo, para demonstrar a minha intranquilidade a respeito do destino da leitura neste país.

Ao longo de minhas lutas por mais e melhores leituras para o povo brasileiro, sempre defendi a necessidade de uma "frente" constituída por uma grande - e diversa - quantidade de entidades (públicas e privadas) voltadas ao estudo e à promoção da leitura. A razão é mais do que óbvia: a vergonhosa, a horripilante paisagem que atualmente resulta dos descuidos e descasos dos governos brasileiros em relação ao desenvolvimento das práticas de leitura.

Em 2010, terceiro milênio, em meio às sociedades de informação e do conhecimento, o Brasil apresenta o terceiro PIOR nível de desigualdade de renda do mundo e um quadro sombrio expressando o número de leitores reais. A ferida do analfabetismo continua estuporada. Os iletrados funcionais representam quase a metade da população do país. A débil e debilitada rede de bibliotecas (públicas e escolares) nem de leve, nem de longe alimenta a promoção da leitura. Isto tudo a despeito dos incessantes - mas descontínuos, burocratizados e depauperados - programas de enfrentamento dessa questão.

Um dos efeitos básicos da leitura é a qualificação, para melhor, das decisões e ações dos indivíduos, robustecendo-lhes a cidadania. Outros países sabem disso e não perdem de vista o decisivo apoio aos trabalhos das entidades que indistintamente preservam e dinamizam os seus bens culturais escritos junto à população. No Brasil, infelizmente, ou se repete o erro de repetir políticas caolhas de apoio ao que não dá e nunca deu certo, ou se vira a cara para assistir, de camarote, talvez cinicamente rindo por dentro, à morte e ao sepultamento de importantes entidades culturais.

O valor do LEIA BRASIL advém da continuidade da iniciativa pioneira de Mário de Andrade de itinerar a leitura por entre escolas e comunidades através de caminhões. Um trabalho com professores e com estudantes de toda a comunidade escolar visitada para descobrir e experimentar algumas delícias do ato de ler. Advém também de um conjunto considerável de publicações (Leituras Compartilhadas, coleções de livros, CDs, DVDs, entrevistas, filmagens, etc.), de um poderoso portal de serviços pela Internet, de significativa participação em eventos nas várias regiões do país, de estudos e pesquisas, etc. Quer dizer, a entidade consolidou, historicamente, um "patrimônio" importantíssimo sobre as dinâmicas e os processos de leitura no Brasil - um patrimônio que seguramente vai pro brejo por falta de um olhar de natureza solidária, profissional, sensível dos organismos de apoio ou de patrocínio.

Não quero discutir e nem condenar as razões que levaram Jason Prado, o idealizador e coordenador do LEIA BRASIL, a essa decisão. Quero, isto sim, evidenciar aos leitores deste texto que a morte de uma entidade representa não apenas a permanência do nosso evidente atraso cultural na área, mas fundamentalmente o imenso desvio dos rumos que nos conduzem à conquista do direito à leitura, o que o fundo e à inversa, significa o alastramento da idiotice - ou muita esperteza cínica - nas esferas responsáveis pela educação e cultura no Brasil. E, por tabela ou como reflexo, o alastramento da idiotice por toda a sociedade.

EZEQUIEL THEODORO DA SILVA
Cidadão brasileiro, "de luto"



sábado, 24 de julho de 2010

AINDA FALNDO DE AMIGOS, COM MUITA POESIA!

Quero ser Teu Amigo.
(Fernando Pessoa)

"Quero ser teu amigo, nem demais e nem de menos...
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te como próximo, sem medida...
E ficar sempre em tua vida
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade,
Sem jamais te sufocar,
Sem forçar tua vontade.
Sem falar quando for a hora de calar
E sem calar quando for a hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais...
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo,
Mas confesso:
É tão difícil aprender...
Por isso, eu te peço paciência.
Vou encher este teu rosto
De alegrias, lembranças...
Dê-me tempo
De acertar nossas distâncias!"

quarta-feira, 21 de julho de 2010

POR FALAR EM AMIGOS... CORA CORALINA

Saber Viver (CoraCoralina)
 
Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
 
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
 
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.

DIA DO AMIGO - MACHADO DE ASSIS

 
BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas! 

SALA DE LEITURA E REFLEXÃO

Nós, professores de Sala de Leitura da rede municipal do Rio, temos que divulgar e atuar no sentido de multiplicar a reflexão com a Comunidade Escolar sobre este momento que estamos vivendo.
Nossas crianças são fruto deste tempo, vivem neste tempo, sofrem neste tempo de violências que nos ferem de forma tão intensa.
Mais do que nunca me vem à memória os versos de Cazuza em O tempo não para "Meus heróis morreram de over dose..."
Quem são nossos heróis? Quem são os heróis de nossos meninos? Como se formam seu caráter e seus valores?
Mais do que nunca, a Literatura nos é urgente!

Violências contra a mulher

Frei Betto *



O hediondo crime que envolve o goleiro Bruno -a mulher, após ser assassinada, teve o corpo destroçado e devorado por cães, segundo denúncia- é a ponta do iceberg de um problema recorrente: a agressão masculina à mulher.

Entre 1997 e 2007, segundo o Mapa da Violência no Brasil/2010, 41.532 mulheres foram assassinadas no país. Um índice de 4,2 vítimas por cada grupo de 100 mil habitantes, bem acima da média internacional. O Espírito Santo apresenta o quadro mais grave: 10,3 assassinatos de mulheres/100 mil.

O Núcleo de Violência da Universidade de São Paulo identifica como assassinos maridos, ex-maridos e namorados inconformados com o fim da relação. Ao forte componente de misoginia (aversão à mulher), acresce-se a prepotência machista de quem se julga dono da parceira e, portanto, senhor absoluto sobre o destino dela.

A Central de Atendimento à Mulher (telefone 180) recebeu, nos primeiros cinco meses deste ano, 95% mais denúncias do que no mesmo período do ano passado. Mais de 50 mil mulheres denunciaram agressões verbais e físicas. A maioria é de mulheres negras, casadas, com idade entre 20 e 45 anos e nível médio de escolaridade. Os agressores são, em maioria, homens com idade entre 20 e 55 anos e nível médio de escolaridade.

Acredita-se que o aumento de denúncias se deve à Lei Maria da Penha, sancionada em 2006 pelo presidente Lula, e que aumenta o rigor da punição aos agressores. Apesar desse avanço, tudo indica que muitos lares brasileiros são verdadeiras casas dos horrores. A mulher é humilhada, destratada, surrada, por vezes vive em regime de encarceramento virtual e de semiescravidão no trabalho doméstico. Sem contar os casos de pedofilia e agressão sexual de crianças e adolescentes por parte do próprio pai.

A violência contra a mulher decorre de vários fatores, a começar pela omissão das próprias vítimas que, dependentes emocional e financeiramente do agressor, ou em nome da preservação do núcleo familiar, ficam caladas ou dominadas pelo pavor frente aos efeitos de uma denúncia. Soma-se a isso a impunidade. Eliza Zamudio, ex-namorada do goleiro Bruno, teria recorrido à Delegacia de Defesa da Mulher, sem que sua queixa tivesse sido levada a sério. Raramente o poder público assegura proteção à vítima e é ágil na punição ao agressor.

A violência contra a mulher não ocorre apenas nas relações interpessoais. Ela é generalizada pela cultura mercantilizada em que vivemos. Basta observar a multiplicidade de anúncios televisivos que fazem da mulher isca pornográfica de consumo.

Pare diante de uma banca de revistas e confira a diversidade do "açougue" fotográfico! Preste atenção no papéis femininos em programas humorísticos. Ora, se a mulher é reduzida às suas nádegas e atributos físicos, tratada como "gata" ou "avião", exposta como mero objeto de uso masculino, como esperar que seja respeitada?

Nossas escolas, de uns anos para cá, introduziram no currículo aulas que abordam o tema da sexualidade. Em geral se restringem a noções de higiene corporal para se evitar doenças sexualmente transmissíveis. Não tratam do afeto, do amor, da alteridade entre parceiros, da família como projeto de vida, da irredutível dignidade do outro, incluídos os/as homossexuais.

Nas famílias, ainda há pais que conservam o tabu de não falar de sexo e afeto com os filhos ou julgam melhor o extremo oposto, o "liberou geral", a total falta de limites, o que favorece a erotização precoce de crianças e a promiscuidade de adolescentes, agravada pelos casos de gravidez inesperada e indesejada.

Onde andam os movimentos de mulheres? Onde a indignação frente às várias formas de violência contra elas?


Os clubes esportivos deveriam impor a seus atletas, como fazem empresas e denominações religiosas, um código de ética. Talvez assim a fama repentina e o dinheiro excessivo não virassem a cabeça de ídolos de pés de barro...


[Autor de "Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto

domingo, 11 de julho de 2010

Um pouco de poesia

Em tempos de tanta correria, ausência de percepção do outro e de si mesmo, deixamos aqui um pouco da poesia de Vinicius de Moraes, nosso "poetinha", retirada do livro "Sentimento do sublime". A data de 9 de julho marca mais um ano de sua ausência, mas eternizado em seus versos, por isso duradouro.

O BOM-PASTOR
Vinicius de Moraes

Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas
Com riscos de andorinhas pelo céu.
Amo ir solitário pelos caminhos
Olhando a tarde parada no tempo
Parada no céu como um pássaro em voo
E que vem de asas largas se abatendo.
Amo desvendar a vaga penumbra que desce
Amo sentir o ar sem movimento, a luz sem vida
Tudo interiorizado, tudo paralisado na oração calma...

Amo andar nessas tardes...
Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
Como um raio de luz.
Cresço, projeto-me ao infinito, agitando
Para consolar as árvores angustiadas
E acalmar os pinheiros moribundos.
Desço aos vales como uma sombra de montanha
Buscando poesia nos rios parados.
Sou como o bom-pastor da natureza
Que recolhe a alma do seu rebanho
No agasalho da sua alma...

E amo voltar
Quando tudo não é mais que uma saudade
Do momento suspenso que foi...
Amo voltar quando a noite palpita
Nas primeiras estrelas claras...
Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas
Trazendo cheiros agrestes de selva...
E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite
Amo sonhar...