a contadora de filmes
Deserto do Atacama, Chile |
Com “A contadora de filmes”, o chileno Hernán Rivera Letelier nos aproxima do deserto de Atacama, conhecido como o mais solitário do mundo.
O livro fala sobre uma família apaixonada por cinema. Até que um acidente de trabalho tirou o movimento das pernas do pai, parte da renda e a rotina dos domingos daquela casa. Tirou ainda a mãe, que não suportou a invalidez do marido e foi embora, deixando com ele cinco filhos pequenos.
Como sempre acontece, a vida seguiu. Restou apenas a fuga da aridez por meio dos filmes. Ficção e realidade se misturavam com as aparições de Jerry Lewis, Marilyn Monroe, John Wayne e todo o elenco dos filmes mexicanos, os preferidos. Como não havia dinheiro suficiente para irem ao cinema juntos, como antigamente, a proposta foi que apenas um dos filhos assistisse aos filmes com a obrigação de contar o enredo quando voltasse.
A escolhida foi a caçula, Maria Margarida, que se mostrou melhor que os irmãos. Mais que narrar, ela interpretava, apropriava-se das obras, cantava e fazia seus próprios desfechos. Sempre que a memória falhava, sempre que sentia que a cena poderia machucar o pai. E assim passou a ser conhecida pelos moradores do povoado, que também queriam assistir a sua interpretação. Ganhou a notoriedade de suas estrelas favoritas. Tanto que, a exemplo de seus ídolos, mudou de nome no auge do sucesso: Fada Docine, contadora de filmes. Mas vieram as desilusões, a televisão e o golpe de estado de Pinochet. Ficaram, contudo, as histórias e a nostalgia daqueles que tiveram seus sonhos truncados. O livro será adaptado para o cinema por Walter Salles.
"Acho que no fundo eu tinha alma de fuxiqueira, pois além de tudo me bastava bater os olhos nas duas ou três fotos pregadas no cartaz – pelo olhar lascivo do padre, o sorrisinho inocente da menina ou o gesto cúmplice da beata – para poder inventar uma trama, imaginar uma história inteira e passar o meu próprio filme."
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